Opinião: “Alvi, 23 anos de criação”
No dia 30 de maio comemoramos nossa Alvi. A Academia de Letras do Vale do Iguaçu foi criada no ano 2000 por iniciativa do Professor Francisco Filipak, junto à Academia Paranaense de Letras, no intuito de reunir pessoas interessadas em pesquisar e preservar elementos históricos e culturais vinculados à nossa região, que envolve o sul do Paraná e o norte de Santa Catarina. No auditório da então Faculdade Estadual de Filosofia, Ciências e Letras de União da Vitória, hoje campus de União da Vitória da Unespar, elegeu-se uma diretoria provisória, cujo presidente foi o Professor Joaquim Osório Ribas. A exemplo das Academias de Letras já existentes, criaram-se 40 cadeiras, cujos patronos permanentes foram escolhidos entre pessoas que deixaram relevantes contribuições culturais ou serviços prestados. O respeito e o valor dispensados às letras e à cultura inspiram, desde então, a produção e a disseminação de conhecimentos e o desenvolvimento de atividades junto às comunidades.
A sessão solene de sua instalação oficial ocorreu então no dia 10 de novembro do mesmo ano 2000, no Cine Teatro Luz, dando posse aos 28 acadêmicos fundadores. Nos anos seguintes novos acadêmicos foram sendo admitidos, e a Alvi mantém o seu quadro de participantes constituído de pessoas interessadas em preservais bens históricos e culturais, divulgar estudos, e desenvolver projetos de assistência a setores das comunidades em seu âmbito.
O aniversário de 23 anos da Alvi foi comemorado juntamente com outro aniversariante, o 5° Batalhão de Engenharia de Combate Blindado Juarez Távora, que completou 110 anos de sua fundação, e cuja existência em nossas cidades tem contribuído com inúmeras ações em prol do bem-estar da população. Prestigiaram o evento realizado no Grêmio Ribeiro Pires várias autoridades locais e convidados, que puderam apreciar momentos repletos de riqueza histórica e cultural. As duas entidades aniversariantes foram homenageadas por seus integrantes e por membros das comunidades que com elas mantêm alguma relação. Trouxeram-se histórias de vida e de produção, músicas inspiradas no serviço cidadão, conhecimentos que avivam memórias e inspiram crescimento.
Nesse espírito de comemoração ressalta-se, mais que os anos de vivência e experiência das instituições, aquilo que as une em seu serviço: as pessoas que alcançam, a comunidade à sua volta. Aqui encontra-se a importância de sua existência e da diligência de seus ocupantes; não apenas no que têm a oferecer aos conterrâneos, mas especialmente no seu real envolvimento com eles. Livros e artigos podem ser escritos no isolamento físico; projetos são idealizados e discutidos inicialmente por poucos, em reuniões fechadas. Essas empreitadas, porém, alcançam sua importância e seu valor quando muitas pessoas, pertencentes às mais distintas esferas, delas tomam conhecimento e por elas são beneficiadas.
Tal benefício ofertado pelo serviço institucional é facilmente constatado por quem habita Porto União da Vitória e suas redondezas, quando se trata do Batalhão, tendo em vista as inúmeras incursões físicas de resgate, construção e proteção. Já com relação à outra aniversariante, a Academia de Letras, o mérito de sua existência pode não estar tão evidente, pois corre o risco de perder-se no isolamento das reuniões de seus membros, nos livros e revistas que porventura ocupam não cheguem a ser lidos pela comunidade, no desenvolvimento de projetos que recebem pouca divulgação ou deixam de envolver grupos e pessoas não vinculados formalmente à Academia. Há um risco constante de ensimesmar-nos, de nos recolhermos apenas às nossas vozes, de absorver-nos em produções individuais. Cientes desses riscos, os integrantes da Alvi trabalham constantemente em atividades que garantam seus propósitos e a sua divulgação.
A participação de novos membros na Academia motiva, sempre de forma diferente, o engajamento mais acentuado; restitui-se, onde necessário, o vigor para questionar e para mudar. E mesmo em meio a privações de distintas naturezas, a Alvi tem conseguido manter-se ativa ocupando, sempre conjuntamente com outras Academias, grupos e pessoas, espaços políticos, culturais, históricos e linguísticos. O trabalho não cessa, o esforço precisa ser esmerado, com o objetivo de que esteja claro para a população por que a Alvi existe.
Para que serve a nossa Academia, afinal? Serão seus propósitos demasiadamente subjetivos, superficiais, irrelevantes para muitos? As Academias de Letras, em geral, podem ser extremamente formais, com suas comendas e seus pelerines; e essa formalidade, que as organiza e distingue, pode distanciá-las da comunidade em geral. O público externo poderia pensar que uma Academia de Letras constitui-se num grupo de intelectuais que, em reuniões fechadas, trocam elogios, alimentam suas vaidades, e quase nada produzem. Felizmente, não é essa a realidade, em especial da nossa Alvi, embora a meu ver ela careça de divulgação extrema e constante.
Trabalhamos com parcerias: com as prefeituras, associações as mais diversas, grupos comunitários e religiosos, instituições de caridade e de ensino. As reuniões acontecem, na maioria das vezes, apenas entre seus membros, mas nelas são levantadas discussões que vêm a colaborar para a elevação cultural, a valorização literária e científica; buscam-se formas de defender ideais considerados fundamentais para a sociedade em questão. A Alvi procura legitimar-se como uma organização constituída de pessoas que representam as próprias comunidades nas quais vivem e atuam, que têm potencial intelectual e social, que oferecem disponibilidade e disposição para contribuir com a sociedade em geral.
Os membros da Alvi são também membros de outras Academias, locais ou regionais, o que a mantém integrada na vida acadêmica mais ampla. Seu trabalho alcança também os pequeninos por vezes esquecidos, através de projetos educacionais e de suporte social. Somos autores de textos que resgatam e registram a história e as histórias das nossas comunidades, como embaixadores da memória. Como semeadores de consciência, plantamos sempre diferentes personalidades em meio aos demais, para que sua competência se expanda, floresça e frutifique onde pode ser apreciada.
Karim Siebeneicher Brito é professora e ocupa a cadeira número 15 da Alvi, cujo patrono é o jornalista Ari Milis.
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