OPINIÃO: “Anistia é o objetivo, mas a sucessão é o obstáculo”

Uma visão rápida do quadro político, mostra pouca evolução em relação à 2022, ano eleitoral. Lula, Bolsonaro e suas equipes seguem como se ainda houvesse disputa e suas ações sempre se voltam para o público, sem preocupações com as instituições. Tudo que vale é o poder e, em seu nome, se negocia tudo.

Existem muitas razões para manter o jogo sob pressão. A esquerda venceu nas urnas, mas foi derrotado no primeiro turno, eleições legislativas, e parece não ter fôlego para a disputa nas ruas, onde a direita sempre mostra força. Bolsonaro está suspenso, mas segue forte no coração do povo. Lula está no poder, mas tem espaço de manobra muito limitado.

Todavia, neste momento, pela necessidade circunstancial do líder da direita, a sua prioridade é impedir nova condenação na investigação do pretenso golpe e, em seguida, tentar reverter a suspensão de seus direitos políticos. Como segue no centro do tabuleiro, não abre espaço para as novas lideranças e permite que Lula siga soberano em direção à sucessão.

A direita parece majoritária, mas pode estar dividida. Perdeu em 22 porque seu candidato abusou do direito de errar, mas hoje, mais que a dificuldade para manter unidade, tem que enfrentar a caneta na mão do presidente e a possibilidade, sempre presente, de que a economia ofereça números convincentes que transfiram a disputa para 2023. Vale sempre a máxima; o bolso é sempre o maior cabo eleitoral.

Uma análise fria indica que Lula é muito favorito em 2026 se a direita não definir seu candidato logo e reconstruir a unidade em torno desta liderança, mas isto não é conveniente para Bolsonaro. É lícito que continue sonhando com uma improvável anistia, é natural que se veja como seu antagonista, livre das amarras no limite do prazo e, neste caso, repetindo o duelo entre ambos. Por isso, não passa o bastão.

Neste momento, apenas Tarcisio parece capaz de levar a disputa para o segundo turno e, sem mudança de rumo, 2026 será apenas a preliminar previsível de um confronto que fica adiado para 2030. Lula faz pouca sombra, mas Haddad, Alckmin, Flavio

Dino e até Boulos, se sobreviver a disputa na capital, compram fichas e aguardam a definição do chefe. Também na direita, a definição depende de uma única cabeça que, se poupada, entra em campo, se ainda persistir o cartão vermelho, escala Tarcisio ou Michele. Só a possibilidade remota de algum ungido das urnas em 2026, impede a perene polarização.

Péssimo para o Brasil que segue assistindo ao duelo entre dois líderes personalistas que ciscam pra dentro e, por conta da radicalização, não são capazes de construir o necessário consenso para correção de rumos, planos superiores a um mandato e cujo apego ao poder os impede de se livrar das amarras congressuais, que sugam nossa energia e nossos recursos em obras eleitoreiras, drenando recursos escassos que limitam nosso desenvolvimento.

Triste que a parcela maior da população siga preocupado apenas em se impor ao oponente “nefasto” e cantar odes a seu escolhido, ciente que, por designação divina, luta pelo único caminho disponível para o país fugir do inferno proposto pelo lado contrário.

Proibir reeleição, quando a lei permitir, limitar nomeações ao mínimo necessário, enxugar o quadro partidário e reajustar o equilíbrio federativo, com mais força e poder para estados e municípios, parecem ações elementares para iniciar uma virada de jogo onde o vencedor sejam os brasileiros e, não mais uma vez, o salvador da pátria de plantão.

Mas tudo isto é apenas hipótese, por ora seguimos reféns dos objetivos de nossos mitos; um só tem olhos para a reeleição e outro não tira o foco da anistia.

E o Brasil? Segue vítima da insana disputa entre os polos.

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