Opinião: “As pautas do ódio”
Talvez porque, em termos ideológicos, FHC e Lula não estivessem tão distantes, apenas sob Dilma, talvez na disputa contra Aécio, a polarização da política saiu dos trilhos, sendo hoje muito além de uma simples escolha eleitoral e resvalando para uma odiosa escolha entre o bem e o mau, com leitura a critério do inocente eleitor.
É importante frisar que existem diferenças significativas entre direita e esquerda, principalmente sustentadas pela distância entre as pautas de costumes liberal e conservadora que apontam, de fato, para estilo de vida opostos, mau comparando quase como nos conflitos de geração do fim do século passado. Drogas, abortos, sexo, ideologia de gênero e vários outros temas colocam torcedores tão afastados quanto na métrica ideológica.
De resto, nada se impõe como intransponível, em especial no campo político. Independente do titular de plantão, as relações institucionais e políticas seguem segundo a mesma rotina. Relação quase temerária com o judiciário, STF à frente, por conta da supremacia que o órgão assumiu nos últimos anos e, vamos ser francos, sempre tem um pequeno detalhe que exige que se trate o Supremo com cerimônia.
Com o legislativo, é apenas uma questão de opinião. Não vejo diferença na maneira como os últimos titulares se ajoelharam nas negociações com a Câmara, a dignidade deles e os nossos impostos sempre possibilitaram um arranjo nunca definitivo, como prestações de um crediário de 48 parcelas, coincidente com a duração do mandato, ainda que nos últimos seis meses, o valor da parcela esteja atrelado ao número das pesquisas. Preciso ser educado, mas o termo patifaria define bem o estado de espírito do brasileiro bem-informado para explicar este casamento medieval, cujo dote é sempre bancado por todos nós.
Nem mesmo na economia, podemos apontar rumos conflitantes. Reforma trabalhista ou tributária foram muito mais ações congressuais que do executivo, ainda que as prioridades voltadas para o resultado ou para o compromisso social, possam, algumas vezes, tornar divergentes as ações de Guedes e Haddad, nada que os afaste da elite financeira que continua festejando o Brasil como campeão mundial dos juros (jamais sem saudar a tendência de queda atual da Selic) e dos lucros bancários estratosféricos. Tenho até curiosidade quando nossos astronautas desbravarem novas galáxias se encontrarão governos tão servis ao capital como neste cantinho do planeta Terra.
Julgo que os observadores isentos também percebem que a quase totalidade das ações dos nossos chefes de plantão atendem sempre a lógica eleitoral, com prioridade absoluta para ganhos eleitorais que turbinem continuamente seus projetos de poder. A reeleição, ou no mínimo a manutenção do grupo no poder, continua sendo o combustível que move os grupos políticos e nisto eles são rigorosamente iguais, neste terreno.
Talvez, e pode ser apenas ilusão de alguém que acredita que um dia seremos melhores, que já esteja passando da hora de abandonarmos a postura medíocre de nos apaixonarmos por políticos e tratar as questões com um distanciamento conveniente que permita perceber que são as regras que precisam ser reavaliadas.
Tentei, nas minhas orações, convencer Jesus ao retorno terrestre, para se dedicar à missão de salvar o Brasil. Preciso desistir desta missão para evitar a excomunhão ou uma senha inquebrantável na porta do Paraíso. Na nossa presidência de coalisão, fico imaginando se Ele teria algum argumento, não monetário, para compor maioria no Congresso. Sem dúvida seria um milagre tão fantástico quanto a transformação da água em vinho.
A inteligência aponta para discussões mais consequentes sobre a correção de rumos da nossa nação.
Presidência de Coalizão precisa ser repensada, com instrumentos que sustentem a governabilidade, com custo menor para a população, ações na linha da redução das siglas e fidelidade em causas programáticas no Congresso.
Fim das reeleições e rearranjo do calendário eleitoral, com mandatos maiores e únicos no executivo e reeleições limitada no executivo.
Debate honesto sobre a implantação do Voto Distrital para melhorar a qualidade da representatividade, reduzindo distância entre eleitos e eleitores, além de reduzir a força das máquinas partidárias que simplesmente conseguem definir mais de 70% dos eleitos, por força da distribuição dos recursos e das vagas do partido.
Projetos de médio prazo para a educação, saúde e demais setores críticos que não se submetam ao desejo do chefe de plantão e sejam precedidos de plano de metas e métricas bem definidas e sob controle do legislativo, talvez até com uma adaptação do voto de desconfiança do parlamentarismo.
Estudo pragmático para revisão dos municípios brasileiros, sendo insustentável que se prossiga com tanto desperdício de dinheiro público em prefeituras que arrecadam menos que 50% de seus custos, considerados os retornos especificados em lei. Não pense que são poucos pois te asseguro que passam de mil!
Sei que você está apto a incluir novos parágrafos com pautas relevantes e acho que já passou da hora de milhões de brasileiros abandonarem o debate insano sobre quem é o salvador da pátria, inclusive porque nenhum deles tem a grandeza que esta missão exige.
A tarefa de reordenar o Brasil, no caminho que conjugue ética, decência e desenvolvimento é de todo o conjunto da sociedade e, para isto, é preciso entender que os partidos não são o fórum adequado para este debate porque neles o que se discute é apenas o poder.
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