OPINIÃO: As soluções já existem, basta determinação para implantá-las
Qualquer cidadão minimamente antenado, percebe a dinâmica do mundo atual e as transformações que se sucedem em todas as áreas do conhecimento, como subproduto da revolução digital e seu filhote mais recente, a inteligência artificial.
Na área política, a despeito da necessária etapa de ajustes, as mudanças foram saudáveis e jogaram milhões de cidadãos comuns no debate político, ainda que despreparados, a grande maioria sem cultura política, mas que, com a prática do debate podem, em pouco tempo, ajudar a sociedade a corrigir erros históricos nas relações com a classe política.
Neste primeiro momento, é visível que o debate das pautas políticas está acessível a todos. Se até o início do século, nossas opiniões se limitavam ao cafezinho da empresa, a varanda da casa ou a mesa do boteco, hoje nossa voz pode ecoar para além do nosso bairro ou cidade porque a internet coloca a aldeia global a um clique de distância. Na prática, encurtamos no limite a distância entre política e cidadão comum.
Inevitável perceber que falta informação adequada, formação satisfatória e principalmente maturidade política que os credencie a entender o jogo político sem se tornar vítima das manipulações sofisticadas que movem as estratégias dos grupos ideológicos, através do uso massivo de informações adulteradas, as famosas fakes news, principal componente da guerra ideológica que espalha mentiras e semeia ódio, sem regras, controle ou limites éticos, conturba o ambiente, sobe a temperatura e produz milhões de marionetes travestidos de cabos eleitorais apaixonados e contaminados pela polarização odiosa.
Todavia, a péssima avaliação dos políticos persiste por conta de outra questão não resolvida; o distanciamento crescente entre eleitores e eleitos. O caminho é sempre o mesmo, no dia da eleição, tapinhas nas costas e abraços e, já no dia seguinte, a caminhada inexorável em direção ao colo do patrão, seja ele prefeito ou governador. Exceto no período eleitoral, a prioridade passa a ser o poder e não o povo. Como solucionar esta questão?
Simples, revisitando uma solução adequada e aprovada em vários países e até por aqui, a muito tempo, o voto distrital. Sem maiores detalhes, se trata de reduzir o universo de atuação, não mais estado, mas apenas regiões, substituindo cidades por bairros se pode operar um milagre. O voto, obrigatoriamente, será sempre em algum candidato bem mais próximo.
Com o voto distrital, além da redução geográfica, também ocorre o encurtamento da distância física e social de eleitores e eleitos e, a divisão em distritos impede que as “excelências” peguem a viola e vão tocar em outra freguesia. Cada político estará sujeito ao julgamento do mesmo conjunto de eleitores e a continuidade de sua missão dependerá sempre da aprovação do eleitorado de sua base, exigindo um exercício do mandato mais próximo das aspirações do seu eleitor. Vale a pena avaliar esta solução com carinho.
Mecanismos associados ao parlamentarismo podem ser ajustados para resolver outra questão crucial em nossa política, a falta de continuidade, e até a inexistência de planos de médio prazo para áreas essenciais como educação, saúde e infraestrutura, por exemplo. Ninguém quer impedir que o chefe do executivo nomeie quem quiser para sua administração, mas já passou da hora de impedir os abusos do executivo, em composições criminosas para manter o poder. Já tivemos de tudo, deputados nomeados ministros esperando vinte dias para que se inventasse um ministério para acomodar seus interesses.
A decência e a priorização dos interesses coletivos precisam estabelecer novas regras e impor que os indicados para cargos chaves apresentem projetos formais, com prazos e metas bem definidos e sujeitos ao controle do legislativo. O compromisso com a eficiência, e não o servilismo ou os votos no legislativo, passam a ser o único motivo da manutenção do ministro ou secretário no cargo. Voto de desconfiança é o pomposo nome desta solução eficaz, implementá-la, todavia, depende de pressão popular.
É fundamental entender que a verdadeira participação e energia dos iniciantes no jogo político precisa ser direcionado para a construção de soluções duradouras porque despejar ódio em rede social não resolve, apenas nos torna marionetes manipulados pelas inteligentes engrenagens dos partidos.
A polaridade obtusa interessa apenas a quem quer perpetuar o status quo, porém prefiro me unir aos que lutam por caminhos alternativos, onde a ética e a decência estejam de mãos dadas em direção ao desenvolvimento pleno do país e não pelos atalhos que institucionalizaram a patifaria e as composições espúrias como pavimento em direção para as reeleições.
Blasfêmias gratuitas ou reprodução de fakes precisam ser substituídas por ações pragmáticas em busca de soluções coerentes.
Pense nisto.
Voltar para matérias