Opinião: “CPIC, um novo imposto para indenizar corruptos?”
Todos sabem que o orçamento brasileiro é muito maior, todavia sobram apenas 221 bilhões para obras e ações que podem, de maneira efetiva, reduzir o custo Brasil e melhorar a qualidade de vida da população. Poderia ser muito mais.
Todavia, temos custos surreais decorrentes de nossas deficiências e mazelas da nossa política e do instável desequilíbrio entre os três poderes. Quem paga a conta deste ajuste de contas das elites é o povo brasileiro.
Vinte por cento dos recursos que sobram são destinados à fúria de nossos parlamentares que, metodicamente, colocam a faca no pescoço do titular de plantão e, cada vez mais, por uma única cabeça, distribuem recursos para suas bases, algumas vezes com um nível de suspeição elevado e, sempre, com critérios políticos que jogam por terra prioridades técnicas e urgências da população.
Para efeito comparativo, ainda que se revire o globo terrestre, não há precedente para este abuso. Em segundo lugar da lista, estão Eslováquia e EUA que destinam um pouco mais de 2% de sua sobra orçamentária para decisão dos parlamentares. Isto mesmo, a fúria parlamentar brasileira é dez vezes maior que em qualquer outra Nação.
Enquanto isto, cegos pela paixão, milhões de brasileiros duelam nas redes sociais, disseminando ódio e fakes news, destruindo laços familiares e amizades sólidas apenas para decidir se será Lula ou Bolsonaro que se ajoelhará inerte frente ao Congresso, estrategicamente posicionado ao Centro, mais apropriado para domar discursos vazios de extremistas ineficientes e sem visão macro.
Finalmente podemos afirmar que superamos o falido modelo da presidência de coalizão, substituído por algo como um semiparlamentarismo, ou talvez uma ditadura congressual, um modelo onde o executivo pode tudo desde que acerte o preço com o parlamento.
É provável que bastasse isto para envergonhar cidadãos que apenas desejam o melhor para o país, independente da posição do governo na métrica ideológica, mas 2024 reserva surpresas ainda mais indigestas.
Não restam dúvidas que a Lava Jato, sob o comando de Sergio Moro, percorreu atalhos indevidos apostando que os fins justificam os meios. Forçar a barra para botar ladrões poderosos na cadeia fez brasileiros acreditarem em um novo país, renascer a esperança de que poderíamos construir um país justo. Mas muito se passou depois desta ilusão e, por simplicidade, me permito o direito de citar os capítulos mais recentes.
O Ministro Dias Toffoli, em canetada isolada, liberou mais de 10 bilhões de multas e acordos da J&F, resultante de crimes confessados e provas incontestes recolhidas e, já em 2024, presenteou a Odebrecht com 3,8 bilhões de isenção.
Decisão monocrática que se sobrepõe a vários tribunais, sentenças proferidas com convicção e jogando no lixo, centenas de investigações, provas, depoimentos e julgamentos isentos. Como detalhe sórdido, a banca que defende a Odebrecht conta com a presença da esposa de Toffoli, ainda que não atue neste caso. Nem precisava, o tapa na cara dos brasileiros já provoca traumas generalizados na confiança de que vivemos em um país justo.
Por mim, apenas fortalece a impressão de que vivo em uma Nação organizada para proteger, desde sempre, suas elites, cúmplices das inúmeras fórmulas para garantir impunidade. Ricos e poderosos enraizados em absolutamente todas as instâncias de poder, nos três poderes, serão sempre solidários para varrer a corrupção para debaixo do tapete e proteger seus membros. Uma grande confraria que se reinventa desde as Capitânias hereditárias, divide todo e qualquer espaço de poder que aceita intrusos, ocasionalmente, desde que submetidos às regras que os protegem e, sistematicamente, transferem o ônus para os milhões de brasileiros que não tem ingresso para o eterno Baile da Ilha que segue divertindo a elite.
Para reduzir a hipocrisia, sugiro que se crie logo um imposto, a CPIC, Contribuição Para Indenizar Corruptos, ante a perspectiva de, nos próximos anos, novas canetadas do dia, sendo Toffoli ou outro, resultarão em quase duzentos reais por brasileiro.
Melhor recolher de maneira compulsória do povo brasileiro para não incomodar as elites na missão histórica de se auto proteger.
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