OPINIÃO: “Política , território dos ricos”
Em ano de eleição municipal, porta de entrada do cidadão comum para a política, persiste a dúvida; política é território exclusivo de milionários? Vamos conversar e tentar responder esta questão que tanto aflige os candidatos estreantes.
É lógico que a questão não comporta uma única resposta, fechada, mas, no mínimo, é importante informar que os caminhos são muito limitados para quem não está disposto a bancar a entrada no jogo.
Como as campanhas são cada vez mais curtas, é difícil conseguir visibilidade para o seu nome e suas ideias sem impor um bom volume de campanha e isto exige investimento. Praticamente todos recorrem às redes sociais à espera de um milagre. Todavia, os algoritmos limitam demais esta possibilidade para quem não tem tradição e amplitude nas diversas redes.
Material gráfico perdeu a relevância embora ainda seja necessário para garantir recall, mas não tem poder de convencimento simplesmente porque não há mensagem convincente se não for sustentada por um histórico de ações e identidade com os projetos e ideias elencadas. Resta o velho método do pé na estrada, este sim sempre eficaz, mas exige que você bata em portas que lhe sejam receptivas. Sem relação anterior ou recomendação de intermediários, isto também é ineficaz, logo a velha rede de amigos continua sendo o método mais eficiente em eleições locais.
Amigos e bandeira bem definida, convincente e devidamente apresentada aos eleitores que podem se sensibilizar pelas mesmas causas, são a receita do sucesso para o candidato comum. Sim porque existem as figurinhas carimbadas deste jogo.
Direto e objetivo; a escolha da legenda pode ser o fator mais relevante da disputa. Atente para o fato de que partidos tem donos, sempre! Começa pelo fato que políticos experientes, geralmente se dividem metodicamente pelas legendas de forma a garantir uma possibilidade otimizada de eleição. Esquece este negócio de ideologia, isto é apenas para o cidadão comum sonhador e sempre disposto a brigar pelos seus ídolos. Eleição para profissionais é racional e a matemática é fator relevante para a tomada de decisões.
Ainda que mais suave, com no máximo 14 legendas na disputa das proporcionais, em qualquer cidade, principalmente nas médias e pequenas, serão raras as legendas que obterão três vagas na Câmara, logo a luta do candidato iniciante deve ser buscar votos que o coloquem entre os dois primeiros da legenda, em uma eleição à parte e totalmente decisiva.
Todavia, a escolha da legenda tem mais dois fatores a serem considerados. É muito mais confortável estar em uma legenda que esteja próxima da postura individual. A métrica ideológica não define, mas produz maior identidade no discurso e isto é um facilitador, mas a identificação com o candidato majoritário da legenda é bem mais relevante.
Nas eleições estaduais, o fundo eleitoral é muito relevante e cada legenda, através da irrigação financeira desequilibra o pleito e define quase 80% dos eleitos. Mas, na eleição municipal, a chave do cofre está nas mãos do candidato a prefeito e sua coordenação que, sempre será assim, permitirá vida mais fácil para parceiros mais identificados.
Observe que são muitos fatores concorrentes e, quase todos, sofrem influência direta das finanças, mas tem um fator que pode ser apropriado da maneira que for mais conveniente ao candidato e que se mostra muito relevante; o tempo de dedicação à campanha.
Ouso dizer que apenas uma campanha intensa, que gaste sola de sapato e recorra aos amigos para ampliar horizontes pode equilibrar a disputa e levar novos nomes ao legislativo municipal que não sejam sustentados apenas por recursos financeiros.
Receita para vencer? Redes de amigos, boas ideias, bem transformadas em bandeiras eleitorais e muita disposição para apertar mãos e conversar com eleitores. Fora disto, serão eleitos apenas os ricos e os candidatos à reeleição.
Continuar com a falácia que todos os políticos são iguais é chover no molhado. Os bons cidadãos entram para a política através das eleições municipais. Melhor que falar de maneira infrutífera, é escolher um bom nome e o ajudar a chegar na Câmara Municipal.
Como reconhecer um bom candidato? Por sua idoneidade, por sua história de vida, por sua formação e, principalmente, pela sua capacidade de exercer o mandato com independência.
Sem isto, será apenas mais um inútil na política.
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