“Empresário tem obrigação de intrinsecamente manter a cultura da sustentabilidade”

José Nelson Dissenha Neto acredita que empoderar o Meio Ambiente é uma prática que só gera vantagens. Empresa de União da Vitória prevê expansão de curto prazo no segmento


O ano era 1941.

Desde aquele ponta pé inicial de João Baptista Dissenha com a instalação de um comércio atacadista em Curitiba (PR), já se passaram 80 anos de uma iniciativa conhecida por Grupo Dissenha. Foram décadas atravessadas a fio e que se manteve em pé. De lá para cá, o Grupo alçou voos com importantes compromissos estratégicos selados a partir das premissas de seus fundadores.

José Nelson Dissenha Neto representa a quarta geração a comandar as atribuições do Grupo Dissenha. Na função de Diretor Presidente, José comenta que ser um empresário hoje no Brasil é vencer desafios diários impostos a todos que buscam empreender, gerar renda e oportunizar vagas de trabalho. Acrescenta ainda que na sua visão, empoderar o Meio Ambiente é uma prática que só gera vantagens e que tem dado dinamismo a economia brasileira. A empresa de União da Vitória, por exemplo, prevê rápida expansão no segmento.

Conta o empresário ainda que o Grupo Dissenha nunca ficou estagnado em apenas um ramo. Prova disso foi que em 1947 a unidade da empresa fundada em Curitiba foi transferida para União da Vitória. Nesse período, voltou suas atividades para a produção e beneficiamento da madeira.

Em 1950, houve a aquisição de uma laminadora em General Carneiro, onde se iniciou a produção de lâminas, que viria a ser uma das grandes atividades do Grupo. Já em 1957, a linha do tempo do Grupo Dissenha segue com a aquisição do terreno para construção da sede da empresa, a qual se encontra no mesmo local até hoje, no bairro Rocio. Já em 1968, o grupo concentrou sua produção para atender a demanda do emergente mercado de chapas especiais para a construção civil brasileira.


Confira a entrevista:

Jornal O Comércio (JOC): Qual o segrego de quase um século de trabalho prestado na região?
José Nelson Dissenha Neto (JNDN): Quando a gente atinge uma marca assim, logo um filme passa pela cabeça. Eu represento a quarta geração do Grupo e reflito em tudo o que meu bisavô deve ter passado lá pelos anos 40, cujas empresas tinham dificuldades e percalços no começo. A nossa empresa não é originalmente daqui (União da Vitória), pois teve início com uma casa de comércio em São José dos Pinhais, em Curitiba. Era praticamente uma bodega. O meu bisavô deslocava muito para Curitiba e de carroça para pegar mantimentos em Curitiba, revender nessa casa de comércio. Era um trabalho desgastante. A nossa empresa aqui na região começou em General Carneiro e depois veio para União da Vitória. Abrimos a nossa primeira serraria na região de General Carneiro e foi aí que começou o Grupo Dissenha, no ramo madeira, sendo o nosso carro chefe em todos esses anos. O Grupo se manteve pela bravura dos seus fundadores. Eu passei a gerir a empresas nos anos 2000, dando seguimento aos feitos, ética, conquistas dos fundadores, agora com uma gestão mais moderna, muito embora honrando tudo o que eles fizeram.

JOC: O que representa o Grupo Dissenha para o desenvolvimento econômico da região?
JNDN: Nós apreciamos todos aqueles que empregam e geram valores na região de União da Vitória, principalmente, digo que não é fácil ser empresário atualmente, pois você abdica de muita coisa e o risco é imenso, ou seja, você vive no risco. A Dissenha completa 80 anos e por aqui, já passaram milhares de pessoas e também fazemos parte da história da cidade. A questão é que quando um grupo empresarial, como é o caso do Dissenha, vai bem, isso acaba refletindo para os outros segmentos também, e como consequência a cidade vai bem financeiramente. Nossas propriedades florestais e fábricas estão aqui e temos orgulho em fazer parte dessa pontinha da história que teve início lá atrás. Hoje abdicamos de investimentos fora para continuar investindo aqui, na região de União da Vitória.

JOC: Como se sustentar no mercado atualmente (o que compõe o Grupo Dissenha)?
JNDN: Já navegamos por diversos setores, como o de papel, compensados e outros. Houve uma certa preparação para a próxima geração, ou seja, tivemos que fazer uma reconstrução. O Grupo Florestal, que é administrado pelo meu tio José Carlos, é o nosso forte aqui; cito ainda o reflorestamento de eucalipto e pinus, também a erva-mate que apresenta o maior plantio da região; destaque para a agropecuária, ou seja, a lavoura, que mesmo pequena ainda, carrega objetivos de expansão. Cito também o setor de utilidades domésticas sustentáveis, por meio da Evo Produtos Sustentáveis, que é a nossa menina dos olhos hoje e que temos um carinho com este segmento, com o produto, consumidor e com a sustentabilidade. A Evo representa hoje uma das ambições da empresa. No ramo florestal serão construídos 28 barracões industriais para aluguel, ofertados para pequenas e médias empresas. Também, cito o setor de energia elétrica – o Dissenha Energia – setor que a gente aposta muito, principalmente em usina hidrelétrica; quero crer que o seu começo aconteça ainda em 2021.

JOC: Sustentabilidade é uma aposta das empresas brasileiras?
JNDN: Não vejo como aposta, mas sim como sendo impossível para uma empresa querer ser longeva e com riqueza a longo prazo sem ser sustentável. O empresário hoje tem obrigação de intrinsecamente manter a cultura da sustentabilidade. É um trabalho entre empregado e empregador, ou seja, todos precisam crescer juntos para ser bom para todo mundo. Eu quero crer que as nossas empresas abranjam esse conceito. No florestal só colhemos o que a floresta gera. Se você perguntar qual é o estoque de madeira da Dissenha nas áreas que tem hoje, eu respondo que é igual em todo o começo de ano. Pois, tudo o que na floresta cresce, nós colhemos e estocamos para o final do ano, fora isso 70% das nossas áreas são totalmente preservadas. A Dissenha tem hoje um dos maiores estoques de Araucária do Brasil, a maior reserva de imbuia, e para nós isso é praticamente a essência da sustentabilidade. A Evo, por exemplo, representa produtos de utilidade doméstica mais sustentável.

JOC: Quais os planos?
JNDN: O mais importante é dar continuidade ao exemplo que nos foi dado. Essa empresa só existe por causa dos seus fundadores e se manteve em pé durante as crises por eles. Infelizmente o meu avô faleceu em 2016, mas graças a Deus eu tive a oportunidade de conviver muito com ele e éramos melhores amigos. Pretendo levar esses conceitos dele, de ética e trabalho duro para frente. Falando na Evo, a nossa missão é torná-la a maior empresa de utilidades domésticas sustentáveis do Brasil até o final de 2023. No setor de energia elétrica queremos concluir, nos próximos cinco anos, seis usinas. Na erva-mate quero crer que já temos o maior plantio da região. A meta florestal é ambiciosa, onde nos próximos anos – até 2026 – pretendemos dobrar área de araucária, através de parceria com empresas grandes e com a criação de mais uma indústria, já com estudos em andamento para a região. Porém, sempre partindo do pressuposto de continuarmos na região.


GRUPO DISSENHA: 80 ANOS DE HISTÓRIA

  • 1979

Início da exportação de chapas de compensado, firmando-se como fornecedor e parceiro comercial de empresas nos mais diversos países.

  • 1980

Expansão industrial: transformação de erva-mate, fábrica de papel e de molduras e de compensados de madeira, tendo filiais em diversos municípios.

  • 1997

Ano do falecimento do Senhor João Baptista Dissenha, o fundador do Grupo Dissenha.

  • 2003

Programa de sucessão. As indústrias passaram a pertencer aos filhos, ficando ao Grupo Dissenha as propriedades imobiliárias e a atividade florestal.

  • 2004

A quarta geração da família inicia as atividades no Grupo, na pessoa de José Nelson Dissenha Neto.

  • 2014

É iniciada a primeira atividade industrial do grupo no período pós sucessão, com a fundação da empresa Evo Produtos Sustentáveis.

  • 2016

Falece o senhor José Nelson Dissenha, após ter administrado o Grupo Dissenha por 69 anos.

  • 2019

Certificação Florestal Forest Stewardship Council – FSC das fazendas, atestando a responsabilidade com o Meio Ambiente, a sociedade e a segurança do trabalho.

  • 2020

Investimentos do Grupo são distribuídos no mercado financeiro e no projeto de centrais geradoras elétricas, com construções a serem finalizadas até 2022.

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