Fevereiro Roxo é mês dedicado à conscientização sobre doenças silenciosas
Para a saúde, fevereiro tem a cor roxa. A campanha “Fevereiro Roxo” visa à conscientização e diagnóstico precoce do lúpus, do Alzheimer e da fibromialgia, três doenças que à primeira vista não tem nenhuma relação, mas que trazem uma coisa em comum: a impossibilidade de cura. Também são consideradas doenças silenciosas, tanto na manifestação dos sintomas quanto na progressão da doença. Além disso, outra semelhança é que a causa das três doenças é desconhecida.
Com o lema “se não tem cura, que haja conforto”, as ações realizadas durante Fevereiro Roxo visam alertar a população para qualquer sintoma que possa estar relacionado a uma dessas doenças, visto que, por se tratarem de patologias sem sintomas visíveis, são mais difíceis de serem diagnosticadas. “O objetivo da campanha é justamente alertar a população sobre os sintomas iniciais dessas doenças. O diagnóstico precoce é muito importante para que seja iniciado o tratamento adequado que vai promover saúde e qualidade de vida, trazendo conforto ao paciente”, esclarece o médico reumatologista e professor do curso de Medicina da Universidade para o Desenvolvimento do Estado e da Região do Pantanal (Uniderp), Izaias Júnior.
Uma das doenças focais do Fevereiro Roxo, o Alzheimer se manifesta, geralmente, em pessoas na casa dos 60 anos ou mais. Provoca perda da capacidade cognitiva e da memória. O Alzheimer também é a principal causa de demência no mundo, sendo responsável por até 70% dos casos de acordo com a Organização Mundial da Saúde. Estima-se que, no Brasil, 1,2 milhão de pessoas convivam com a doença. Os principais sintomas são falta de memória para acontecimentos recentes, repetição de perguntas, dificuldade para acompanhar conversas ou pensamentos complexos, entre outros. A partir do seu diagnóstico, a sobrevida do paciente costuma ser de oito a dez anos. Nos estágios mais avançados da doença, provoca dificuldade para realização de necessidades fisiológicas, como alimentação, além de poder provocar incontinência fecal e urinária. O tratamento para a doença visa retardar o aparecimento das consequências mais graves e reservar por mais tempo as capacidades intelectuais.
Lúpus
Considerada uma doença inflamatória autoimune, o lúpus faz com que o sistema imunológico do paciente passe a atacar os tecidos saudáveis por engano, podendo, dessa forma, afetar órgãos como pele, rins, cérebro além das articulações. Acomete, geralmente, pessoas com idade entre 20 a 45 anos, como no caso da terapeuta ocupacional Mariana Gabriele dos Santos, que descobriu ser portadora da doença por volta dos 26 anos.
Um dos primeiros sintomas de lúpus em Mariana foi o aparecimento de uma espécie de caroço em seu pescoço. A princípio, médicos acreditaram se tratar de caxumba, porém, como o caroço continuou a aumentar de tamanho mesmo após o tratamento, novos exames foram necessários. “Fui encaminhada para oncologia, fui encaminhada para infectologia e exames, exames, exames e nada constatava”, relata.
Ainda sem diagnóstico, começaram a surgir dores nas articulações. Mariana conta que as dores eram tão fortes que o simples ato de vestir uma calça jeans causava grande desconforto. Foi então que um ortopedista desconfiou da possibilidade de que o causador dos problemas fosse o lúpus, e encaminhou Mariana para outra bateria de exames.
Para que se chegasse ao resultado foram necessários exames de sangue, de urina e até mesmo de imagens, pois o diagnóstico é clínico, não havendo exame específico que possa apontar o lúpus. “O médico junta sintomas. Ele junta características que aparecem nas imagens, alguns fatores que aparecem específicos no sangue que faz com que ele feche o diagnóstico do lúpus”, explica Mariana
Após o diagnóstico, e sabendo mais sobre a doença, Mariana conseguiu lembrar de sintomas presentes já em sua infância que poderiam ter indicado a presença do lúpus em seu organismo ainda mais cedo. O aumento de sensibilidade ao ser exposta ao sol, podendo ser descrita como uma espécie de alergia, era realidade na vida da terapeuta. O cansaço excessivo e perda de peso também são sintomas comuns e que acompanharam Mariana desde pequena. “Eu tive quando criança muita anemia, precisei fazer transfusão de sangue, tive muita pneumonia então acredita-se que aí eu já estava com lúpus ativo mas sempre tratava a doença secundária. Tratava o que vinha e não sabia da possibilidade do lúpus”.
Atualmente, o tratamento de Mariana é contínuo. É preciso estar atenta à medicação, à alimentação e outros fatores como evitar exposição ao sol e tomar cuidados durante atividades físicas. O uso de protetor solar é necessário até mesmo à noite, para evitar a incidência de luzes artificiais que se assemelhem àquela gerada pelo sol. “Eu tomo medicação todos os dias, eu faço reposição de vitaminas, de seis em seis meses eu refaço exames e vejo como é que está a questão das vitaminas, do ferro. Já fiz muita fisioterapia quando a articulação ataca, então o acompanhamento com reumatologista é contínuo e com os outros médicos é conforme forem necessários. O lúpus é uma doença autoimune, ele mesmo ataca os órgãos do corpo, então hoje é articulação, amanhã pode ser o rim, depois pode ser o coração. A gente tem que fazer acompanhamento oftalmológico, [porque o lúpus] pode causar sérios problemas oculares. Então a gente tem que que fazer os exames para o controle do lúpus e os exames para ver os efeitos colaterais que a medicação está deixando no nosso organismo”, explica.
Com a doença controlada, a terapeuta diz conseguir levar uma vida normal, contudo, aponta que no início as coisas foram mais difíceis. “Primeiro vem o desespero. É uma doença que poucos conhecem. É uma doença invisível, então é difícil também dos outros aceitarem que você está com dor, que você não está bem”.
Fibromialgia
A terceira doença que ganha atenção redobrada no Fevereiro Roxo é a fibromialgia. Seu principal sintoma é a dor, geralmente associada a outros fatores, como fadiga, alteração de sono, de memória e de humor. O estresse é frequentemente descrito como um gatilho para a piora dos sintomas, podendo estar associada também a quadros de ansiedade e depressão.
A professora aposentada Irenice Leão Dowboski, de 53 anos, é portadora de lúpus e também de fibromialgia. Descobriu que estava sendo afetada pela segunda doença em 2009, aos 40 anos, após uma consulta ao reumatologista. “Sentia muita dor no corpo por algo além do lúpus. O médico realizou exames em consultório tocando em pontos do corpo ao qual a resposta era dor. Como houve incidência de muitos pontos doloridos ele diagnosticou fibromialgia”, aponta.
Os pontos de dor causa pela fibromialgia estão espalhados pelo corpo todo, sendo dois na parte da frente e dois na parte de trás do pescoço, dois na parte superior do peito, quatro na parte superior das costas, dois nas dobras dos braços, dois na região lombar, dois abaixo das nádegas e dois nos joelhos, totalizando 18 pontos.
Além do uso de medicamentos, Irenice é adepta de tratamentos alternativos para alívio das dores. Um deles é a massagem reflexoterapia podal, uma técnica de massagem e pressão nos pés. Bruna Weber, que aplicou o tratamento em Irenice como parte de seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) em Massoterapia, explica que com esse tipo de massagem é possível tratar órgãos, músculos, e sistema esquelético somente tocando a região dos pés referente ao ponto que necessita de atenção.“Cada sessão dura em torno de 30 minutos e é recomendado realizar ao menos uma vez durante a semana, continuamente, para que tenha um resultado melhor. Cito como exemplo que ela segue o mesmo princípio da auriculoterapia, que também possui todos os pontos do corpo refletidos em um local, só que no caso da auriculo a técnica é feita na orelha. Nossas pacientes geralmente relatavam pontos específicos de dor, então eu focava, nos pés, na região que elas me relatavam, dando ênfase nesse local, por exemplo, para dores na lombar, eu focava na região dos pés que indica a lombar da paciente e realizava a massagem/pressão no ponto”.
Durante o trabalho, Bruna acompanhou um grupo de oito mulheres com idade acima de 40 anos. Desse grupo, muitas pacientes disseram sentir piora do quadro com clima mais frio ou chuvoso. Também foi destacado o fator emocional como desencadeador.
Irenice relata que, após as sessões de massagem com Bruna, sentia alívio e seu sono era mais tranquilo. “Digo que ela tem as mãos abençoadas. Chegava na terapia e falava o que estava doendo e ela fazia a massagem e eu sentia uma energia em meu corpo e a dor aliviava. Tenho um sono agitado pelas dores que sinto, mas quando ia na terapia com a Bruna era o dia que chegava em casa e dormia bem. Super indico o tratamento. É mágico, uma energia muito boa que ajuda muito”. Irenice também realizava sessões de terapia para dor com um psicólogo, devido ao peso do fator emocional sobre a doença.
Atualmente, Irenice consegue conviver melhor com a doença, mas conta que no início sentia dor generalizada e que tratamentos convencionais como fisioterapia e medicamentos não surtiam efeito. “Meus dias eram difíceis pois a dor não permitia fazer muitas coisas. Tinha vergonha de andar mancando, ou ter o braço imobilizado. Hoje tomo um medicamento específico para fibromialgia, receitado pelo neurologista. E uso de terapias alternativas, acupuntura, reiki, massagens. E o principal é manter bem o lado emocional”.
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