No Brasil, menos de 2% da população doou sangue em 2019
Estudo mais recente de dados do Hemoprod, realizado pela Anvisa, mostra razões dos impedimentos para a realização da doação de sangue no país
Uma doação de 450ml de sangue pode salvar até quatro vidas, segundo o Ministério da Saúde. A transfusão pode ser essencial para a recuperação de pacientes que precisem passar por intervenções médicas, ou por aqueles com doenças crônicas graves.
Uma pessoa com idade entre 16 e 69 anos e com mais de 50 kg podem doar sangue até três vezes por ano no caso das mulheres, e até quatro vezes por ano no caso dos homens, desde que respeitando o intervalo mínimo. Os únicos impedimentos definitivos para a doação de sangue são relacionados à doenças ou uso de drogas. Não podem ser doadores aqueles que tenham registrado um quadro de hepatite após os 11 anos; que tenham evidência clínica de hepatite B ou C, AIDS, doenças relacionadas ao vírus HTLV I e II ou Doença de Chagas; também não podem doar aqueles que tenham sido acometidos pela malária ou que tenham usado drogas ilícitas injetáveis. Outros impedimentos são apenas temporários (confira no box). Contudo, mesmo com tão poucas barreiras, o total de doadores de sangue em 2019 representou 1,7% da população nacional. O dado é do boletim mais recente do Sistema de Informação e Produção Hemoterápica (Hemoprod) divulgado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Ainda segundo o relatório, no Paraná, 262.275 pessoas doaram sangue em 2019. Em Santa Catarina foram 198.534. O total brasileiro no mesmo ano foi de 3.706.031. No país, 761.294 pessoas que tinham a intenção de doar sangue foram impedidas de realizar o procedimento. A causa específica mais comum foi anemia (13,87%), seguido por comportamento de risco, termo utilizado para descrever pessoas com maior probabilidade de serem portadoras de HIV, como aquelas que tenham tido relações sexuais sem camisinha, que possuam vários parceiros sexuais, que tenham compartilhado seringas ou agulhas, tenham recebido transfusão de sangue antes de 1985 ou que sejam filhos de de mãe com HIV positivo e que não tenham recebido tratamento antirretroviral (13,35%); hipertensão (4,68%); hipotensão (1,82%); malária (0,9%); alcoolismo (0,53%); hepatite (0,25%) e doença de chagas (0,06%). Outras causas, não especificadas, representaram 64,02% dos impedimentos. Entre as mulheres, a maior causa de empecilho para a doação foi a anemia (22,71%), e entre os homens foi o comportamento de risco (18,74%).
As mulheres foram as que mais apresentaram condições contrárias à doação de sangue em 2019: elas representaram 52,64% dos que foram impedidos de realizar o procedimento, enquanto que os homens foram 47,63%. Tanto no Paraná quanto em Santa Catarina o cenário se repetiu, sendo que no primeiro estado a taxa de mulheres que não puderam doar sangue foi de 54,72% e no segundo foi de 59,49%.
O tipo sanguíneo mais doado em 2019 no Brasil foi o O+ (43,15%), seguido pelo A+ (31,55%), B+ (9,24%), O- (7,32%), A- (4,13%), AB+ (2,94%); B- (1,23%) e AB- (0,44%). No mesmo ano, o sul foi a região do país com maior número de doações por mil habitantes: foram registrados 20,89 doadores a cada mil pessoas nos três estados da região; 19,13 do sudeste; 17.69 no centro-oeste; 15,84 no norte e 14,19 no nordeste.
No ano analisado, 60,64% dos doadores realizaram o procedimento de forma espontânea para manter o estoque do Hemocentro; a doação para reposição, aquela feita para um receptor específico, foi realizada por 39,98% dos doadores; por fim, 0,38% realizaram uma doação autóloga, que é realizada pelo paciente para o seu próprio uso. Tanto no Paraná quanto em Santa Catarina a taxa de doação espontânea ficou acima da nacional, ficando na casa dos 80,33% e 94,91%, respectivamente.
A presença de doador de repetição, que é aquele que realiza duas ou mais doações num período de 12 meses, é mais comum no Paraná e em Santa Catarina do que no Brasil em geral. No Paraná, a taxa de doação de repetição em 2019 foi de 52,58%; em Santa Catarina foi de 46,47%, e no Brasil foi de 43,33%.
Em União da Vitória
O hemocentro de União da Vitória é o responsável pela coleta dos municípios pertencentes a 6ª Regional de Saúde, sendo eles Antônio Olinto, Bituruna, Cruz Machado, General Carneiro, Paula Freitas, Paulo Frontin, Porto Vitória, São Mateus do Sul e União da Vitória. O hemocentro também recebe doações do planalto norte catarinense. Além disso, o responsável pelo banco de sangue de União da Vitória, José Alfredo Rocha Júnior, afirma que qualquer brasileiro pode doar no hemocentro.
“A abrangência do banco de sangue se estende para Santa Catarina também. A maior demanda atualmente é para o Hospital São Braz, sendo 65% do sangue coletado destinado ao hospital”, explica.
Segundo José, no hemocentro de União da Vitória existem 4,5 mil doadores, sendo 2,3 mil mulheres e 2,2 mil homens. A maioria é de meia idade, e aqueles com mais de 30 anos são os que mais doam com regularidade.
Causas de impedimento temporário para a doação de sangue
– Gripe, resfriado e febre: aguardar 7 dias após o desaparecimento dos sintomas;
– Período gestacional;
– Período pós-gravidez: 90 dias para parto normal e 180 dias para cesariana;
– Amamentação: até 12 meses após o parto;
– Ingestão de bebida alcoólica nas 12 horas que antecedem a doação;
– Tatuagem e/ou piercing nos últimos 12 meses (piercing em cavidade oral ou região genital impedem a doação);
– Extração dentária: 72 horas;
– Apendicite, hérnia, amigdalectomia, varizes: 3 meses;
– Colecistectomia, histerectomia, nefrectomia, redução de fraturas, politraumatismos sem sequelas graves, tireoidectomia, colectomia: 6 meses;
– Transfusão de sangue: 1 ano;
– Vacinação: o tempo de impedimento varia de acordo com o tipo de vacina;
– Exames/procedimentos com utilização de endoscópio nos últimos 6 meses;
– Ter sido exposto a situações de risco acrescido para infecções sexualmente transmissíveis (aguardar 12 meses após a exposição).