Prática de exercício físico permite que idosos sejam independentes, diz profissional

Em junho celebra-se o Dia Mundial de Prevenção de Quedas, data instituída pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para alertar sobre os perigos desse tipo de acidente, principalmente quando se trata de idosos. Conversamos com o professor de educação física e especialista em grupos especiais, Waldir Aliot Junior, sobre a importância do exercício físico, principalmente a musculação, para a prevenção de quedas.

Prática de exercício físico permite que idosos sejam independentes, diz profissional

 Waldir Aliot Junior. Foto: acervo pessoal

Confira:

Jornal O Comércio (JOC): Quais são as principais diferenças entre um programa de treinamento de uma pessoa mais jovem e uma pessoa idosa?
Waldir Aliot Junior (WAJ): Começa desde o momento da avaliação desse idoso e esse cidadão mais jovem. O idoso você tem que ter muito mais cuidado, porque o idoso, ele é um pacotinho de surpresa. Ele tem vários tipos de síndromes, problema de pressão alta, vascular, diabetes, problema cardíaco. Em termos de exercício físico, tem que ser um trabalho um pouco mais moderado, de fraco a moderado, até ele começar a adquirir essa melhor condição, aí você pode começar a intensificar um pouco mais. Se leva em consideração a avaliação do que o idoso faz. Dependendo do idoso, eu posso até fazer um trabalho próximo de uma pessoa de 40 anos, 35 anos, próximo a isso, mas tudo vai depender do que esse idoso vai me apresentar durante a avaliação.

JOC: O idoso precisa ser monitorado o tempo todo durante o treinamento?
WAJ: A partir do momento que consta na avaliação que ele tem um problema de pressão alta, por exemplo, ao chegar no nosso espaço vai ser verificada essa pressão inicial. Obviamente, conforme ele tem uma funcionalidade, se ele é uma pessoa mais ágil, não tem tantos problemas, o trabalho não precisa ficar tanto em cima desse idoso. Agora, se ele já tem uma comorbidade, uma dificuldade a mais, o trabalho é individualizado e você tem que ficar constantemente observando e auxiliando esse idoso durante os exercícios. No caso, se ele for diabético, a gente verifica também o nível de glicemia durante o exercício, porque tem alterações. Às vezes ele chega com essa diabetes muito alta e a gente tem que esperar um pouquinho para baixar. Se leva em consideração também o tipo de remédio que ele toma, então existem N fatores que têm que ser controlados para que você não faça com que esse idoso venha a ter um problema durante o exercício físico ou também logo após o exercício.

JOC: Qual a importância da orientação profissional durante a atividade física?
WAJ: Ah, isso é muito importante. Falando em exercício físico, fazendo um comparativo com remédio, ele tem que ser o que prescrito por um médico: dose, quantidade, se toma de manhã, de tarde, de noite, não é verdade? Então o exercício é a mesma coisa. A gente fala que exercício físico é um remédio, então você tem que saber o que? A dose certa, a intensidade certa. Não é fazer de qualquer jeito. A pessoa vai começar por conta, é legal, mas vai chegar o momento que essa pessoa pode vir a se lesionar. A gente vê muitas pessoas às vezes correndo, pessoas obesas correndo, será que ela pode correr? Pode ter um problema articular de joelho, tornozelo. Como é que está esse coração? Você sabe, eu brinco com o pessoal e falo assim: olha, a gente vê a casca, por fora tá lindo, maravilhoso, mas você sabe sua pressão? A pressão arterial é silenciosa, entendeu? Então veja quantos fatores a gente tem que tomar conta, ter essa preocupação. As pessoas, mesmo se forem fazer exercício físico, elas têm que ter uma orientação de um profissional de educação física.

JOC: A atividade física pode ser indicada para uma pessoa com problemas de saúde?
WAJ: Inicialmente o correto é ela vir orientada por um médico. Ou seja, ela já fez uma avaliação, o médico já prescreveu, falou: você está apto a fazer atividade física. A partir do momento que vem essa autorização do médico, nós devemos fazer o quê? O profissional de educação física deve fazer uma avaliação para que ele saiba qual o tipo de exercício e o que essa pessoa precisa fazer inicialmente. Não é qualquer tipo de exercício, né? O cara chega lá e diz: vamos fazer 10 minutos de esteira. Será que essa pessoa pode fazer esses 10 minutos de esteira? Para que isso? Qual é a finalidade? Qual é o objetivo? Por isso a avaliação.

JOC: De acordo com Ministério da Saúde, no ano passado 1.214 pessoas idosas do estado do Paraná perderam a vida em decorrência das quedas. A musculação pode ajudar a pessoa idosa a evitar esse tipo de acidente?
WAJ: Hoje, se você for ver na mídia de uma maneira geral, os trabalhos científicos que estão saindo dizem que as pessoas, sejam elas novas, média idade, ou principalmente os idosos, devem fazer musculação. Não é porque é idoso que ele não vai ganhar músculo. Ele ganha esse músculo, claro que ganha. Ao mesmo tempo que ele está perdendo porque está parado. No momento em que ele começa a se movimentar, a instigar esse músculo, provocar esse músculo, ele vai ganhar a dita cuja da hipertrofia, ele vai melhorar o seu tônus, vai ganhar a sua força, então isso é muito importante.

A musculação, principalmente para os idosos, e até há um certo tempo para as mulheres também, tinha um preconceito. Não pode fazer, vai ficar fortão. Então houve uma aversão e rapidamente, em contrapartida a isso, há anos atrás surgiu aquela famosa moda do “cooper”. Todo mundo se preocupava com a corrida e a musculação deixou-se de lado, porque era muito complicado na época, aparelhos, aquela coisa toda, e falavam que fazia mal. E na verdade agora, de anos para cá, começou-se a mudar essa ideia em virtudes de estudos. Então as pessoas devem e tem que fazer, eu friso isso bastante, a musculação. Musculação é vida. Se você não tiver força, você vai ser uma pessoa dependente.

E falando de idoso, principalmente, ele vai perder a sua funcionalidade, ele não vai conseguir mais sair, não vai conseguir ir aos bailes dançar, que eles gostam, aos famosos bingos que eles fazem. Porque a partir do momento que ele começou a perder essa força, começam o quê? As quedas. Esse é o detalhe, a dependência. Ele começa a ser uma pessoa dependente, não sai mais de casa e começa a ficar deprimido, doente, e obviamente essa curva de fim da vida começa a se acelerar. Você imagina uma pessoa dependente, precisando de tudo, até para ir ao banheiro, como é que fica? A pessoa fica realmente constrangida. E a partir do momento que ele começa a fazer o exercício físico, principalmente a musculação, que vai dar esse aporte físico para ele, a vida dele vai ser outra. Ele vai ser uma pessoa independente, isso é muito importante.

JOC: É possível praticar tanto a musculação quanto um exercício aeróbico ou é necessário optar por um dos dois?
WAJ: O ideal é fazer os dois. A gente sempre vê o pessoal se lesionando. O futebol de final de semana [que gera uma] ruptura de musculatura, torção de tornozelo, lesão de joelho, tudo isso é em função do quê? A musculatura fraca. Nunca é mais um nem o outro. Nós temos que saber o quê? Equilibrar as duas coisas, tanto a musculação e o aeróbico são ideais, são bons. Então um não vive sem o outro. Até aqueles atletas, os corredores maratonistas que a gente vê, que correm 42 km, eles têm o momento deles no treinamento de trabalho de força.

JOC: É possível fazer os dois tipos de exercício no mesmo dia ou o ideal é intercalar?
WAJ: Depende do objetivo. Você pode fazer tranquilamente os dois no mesmo dia. Por exemplo, vamos entrar na área do emagrecimento. Se eu tiver um bom condicionamento eu posso começar com atividade aeróbica, uma corrida pra fazer uma queima maior de calorias e depois, ao final, eu posso fazer a musculação. Tudo depende do objetivo que você deseja. Posso fazer os dois tranquilamente. Só é preciso dosar as intensidades.

JOC: Que benefícios uma pessoa terá na velhice caso comece a praticar exercícios físicos na juventude?
WAJ: Nós chamamos isso de poupança muscular. A pessoa está poupando a sua parte muscular, ela está preparando a sua musculatura para quando chegar lá nos 60, 65, 70 anos. Esse condicionamento que o corpo está tendo, ou veio desenvolvendo ao longo do tempo, a pessoa vai conseguir colher grande parte dessas benfeitorias que o exercício traz durante a velhice. Ele não vai ser aquele idoso dependente. Ele vai ser um idoso independente, porque ele tem força, tem ânimo, tem disposição, o condicionamento cardiopulmonar dele está zerado, está muito bem apesar da idade. É tudo proporcional a idade, então ele vai estar com uma poupança excelente.

JOC: É possível fazer exercício físico até o final da vida?
WAJ: É como eu brinco e falo assim, até que a morte não separe, é tipo um casamento, porque o corpo humano foi feito, ele foi criado para se movimentar, eu digo que a única máquina que fica com problemas, com defeitos, quando para é o corpo humano, ele não pode parar nunca, o problema é que a gente já sabe, a revolução industrial trouxe muitas facilidades para nós, e com isso a gente começou a se acomodar, por isso que começou a surgir as grandes doenças, porque nós começamos a deixar de se mexer e o corpo vai ficando doente cada vez mais, ele precisa do que? De movimento.

JOC: O excesso de exercício físico pode ser prejudicial para a saúde?
WAJ: Tudo que você faz em exagero te prejudica de alguma maneira. E o exercício físico não fica fora dessa regra. Por isso que a gente sempre frisa: tem o tempo certo, a duração certa. Se for fazer musculação, tem a carga certa, a repetição certa, o intervalo. É aquilo que eu falei, é um remédio, então tem a dose correta. Até o remédio, se você tomar demais, faz mal. O exercício não fica fora disso.

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