Retinoblastoma, câncer raro que acomete crianças, ganha destaque após relato de apresentador
Era outubro de 2021 quando o apresentador Tiago Leifert se preparava para o início das gravações da segunda fase do reality show The Voice. Entre um compromisso e outro, Tiago saiu do Rio de Janeiro e foi a São Paulo para ver a esposa Daiana e sua filha, Lua, que na época estava com 11 meses. Foi ao pegar a criança no colo que o apresentador reparou que a filha não olhava diretamente para os olhos do pai, algo que nunca tinha reparado anteriormente. Assustado, o casal procurou um oftalmologista e, após a realização de exames, veio o resultado: Lua possuía retinoblastoma.
A doença se trata de um tumor maligno originário das células da retina. Apesar de raro, é o tipo mais frequente de câncer ocular infantil, atingindo cerca de 400 crianças por ano no Brasil. Carlos Augusto Moreira Neto, médico oftalmologista especialista em retina no Hospital de Olhos do Paraná, explica que o tumor geralmente acomete crianças da faixa dos dois anos, podendo, contudo, ser identificados em crianças ainda mais jovens ou um pouco mais velhas. Dessa forma, a faixa-etária de predominância da doença é entre zero a cinco anos de idade.
Existem três formas de retinoblastoma: o unilateral, que afeta apenas um dos olhos e representa até 75% dos casos; o bilateral, que afeta ambos os olhos; e o Tumor Neuroectodérmico Primitivo (PNET), também conhecido por retinoblastoma trilateral, que ocorre quando um outro tumor se forma na células nervosas primitivas do cérebro de uma criança que apresenta retinoblastoma bilateral. A maioria dos casos da doença, cerca de 85%, ocorrem de forma esporádica. Os demais são considerados hereditários, ou seja, são herdados geneticamente de um dos pais.
Atenção aos sintomas ajuda a ter um diagnóstico precoce
Assim como no caso de Lua, um dos sinais da doença é o estrabismo (olhos desviados ou tortos). Mas o principal sintoma é a leucocoria, também conhecida por sinal do olho de gato. Quando presente, é possível observar um reflexo branco na pupila da criança. É notada, em muitos casos, em fotos tiradas com o flash da câmera ligado.
“O reflexo saudável é o reflexo vermelho. Todo mundo aqui já bateu uma foto com flash e saiu com reflexo vermelho no olho. Isso é o normal. Se por algum motivo os pais observaram que ao bater uma foto o reflexo do fundo do olho da criança está branco num olho e vermelho no outro olho, algo de errado existe aí e algo precisa ser feito. Uma consulta com oftalmologista é necessária”, indica Dr. Carlos.
Além do teste que pode ser realizado pelos pais, exames de rotina buscam identificar essa alteração, como por exemplo o teste do olhinho, que é realizado ainda na maternidade, antes de o bebê receber alta. Tal exame deve ser repetido três vezes por ano, por um pediatra, até a criança completar três anos de idade. Também é indispensável uma visita anual ao oftalmologista.
“O exame oftalmológico de rotina é fundamental e deve ser realizado anualmente até a criança completar cinco anos. Obviamente que se houver alguma alteração detectada em algum desses exames a frequência provavelmente será maior. Além disso, no exame de rotina com o pediatra, que normalmente acontece a cada quatro meses até os três anos de idade, o pediatra deve realizar o teste do olhinho e verificar se existe alguma alteração no reflexo do olho da criança”, reforça o oftalmologista.
O doutor indica, ainda, que o retinoblastoma pode causar a piora da visão, mas nem sempre esse sintoma é identificado, visto que em muitos casos a criança não é capaz de alertar aos pais sobre sua dificuldade em enxergar.
“A gente não pode esquecer que estamos com criança, e criança normalmente não observa piora na visão, não vai se queixar, até porque ela está brincando usando os dois olhos e se um olho piora ela não vai notar. E aí que existe a importância da consulta de rotina com o médico oftalmologista” aponta Dr. Carlos.
Após identificado o retinoblastoma, o tratamento e acompanhamento é feito de forma simultânea entre um oftalmologista e um oncologista pois, muitas vezes, é necessária a realização de quimioterapia.
Quanto antes identificado o retinoblastoma, maiores são as opções de tratamento
Tiago contou em entrevista ao Fantástico que, desde o diagnóstico, Lua já passou por quatro sessões de quimioterapia intra-arterial. Neste tipo de procedimento, realizado em estágios iniciais do tumor, a medicação quimioterápica é aplicada em uma artéria do olho, fazendo com que a aplicação seja mais eficiente e os efeitos da quimioterapia sejam menores. Ainda, em caso de tumores pequenos, existe a possibilidade de realizar o tratamento a partir da laserterapia ou ainda da crioterapia, uma forma de congelamento do tumor.
Entretanto, em casos mais avançados da doença, as opções de tratamento diminuem. Também faz-se presente a possibilidade de metástase, que é quando células do tumor se espalham para outras partes do corpo, apresentando, assim, risco à vida da criança.
“Não tendo metástase, as chances de cura são grandes principalmente se for detectado de forma Inicial, podendo ser realizada assim a quimioterapia ou a quimioterapia super seletiva, que é essa que entrega na artéria, preservando não só a vida mas o globo ocular da criança e, muitas vezes a visão da criança. Entretanto, se o tumor já estiver em um estágio muito avançado e não houver metástase, muitas vezes a gente precisa lançar mão de remoção do globo ocular, que a gente chama de nucleação, para que o tumor possa ser removido por completo e não venha ser uma ameaça à vida da criança”, explica Dr. Carlos.
O oftalmologista reforça, ainda, que exames de rotina são fundamentais em qualquer estágio da vida, devendo ser feitos ao menos uma vez por ano. Também destaca a importância de se procurar tratamentos sérios e confiáveis, realizados por profissionais. “Não existe tratamento para tumor com colírio, com exercícios oculares, fisioterapia ocular. Esse tipo de tratamento não é comprovado cientificamente e, portanto, não está indicado, podendo levar inclusive risco à vida da criança”.
Desabafo de Tiago e Daiana buscava alertar pais sobre a doença
Afastado das telas desde outubro, Tiago veio à público ao lado da esposa, Daiana, no sábado, 29 de janeiro, em vídeo divulgado em redes sociais para contar sobre o diagnóstico de Lua. Até então o casal não havia se pronunciado sobre o assunto, mantendo a informação sobre a doença e tratamento da filha em segredo para preservar a criança.
Entretanto, após a quarta sessão de quimioterapia de Lua, Tiago e Daiana sentiram a necessidade de informar a população sobre essa doença, ainda pouco conhecida do público. “Meu sonho era que meses antes eu tivesse acesso a um vídeo de algum casal dizendo o que acontecia com o filho deles. Se a gente conseguir fazer com que um casal leve uma criança antes do que a gente fez, missão cumprida”, relatou Tiago durante o vídeo.
Na mesma oportunidade, o apresentador destacou a importância de procurar ajuda profissional assim que algo estranho nos olhos da criança for notado pelos pais. “Se você reparar movimento irregular no globo ocular, se reparar que a criança te olha meio de lado, procure imediatamente um oftalmologista. Mesmo se você nunca viu nada na criança, vá no primeiro ano de vida no oftalmo”.
Dois dias após a divulgação do vídeo, Tiago veio novamente à público, desta vez comemorando o fato de seu relato ter ajudado uma fã a identificar precocemente o retinoblastoma em seu filho. “Conseguimos o primeiro diagnóstico precoce de retinoblastoma graças ao vídeo da Lua. Uma mãe foi ao médico por causa do vídeo, reconheceu alguns sintomas e a criança tem retinoblastoma em estágio inicial.Era esse o objetivo, atingimos. Tem muito trabalho pela frente e a gente ainda pretende salvar muitas crianças com a Luazinha, com a força da Lua. Deu certo, conseguimos o primeiro!”.
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