Vanucia Serrano: “Se priorizar é crucial para que se envelheça com saúde”
Qual a importância dos exames preventivos? Quando devemos consultar uma ginecologista? O que devemos fazer para manter nossa saúde em dia? Esses e outros tópicos são abordados na entrevista especial realizada pela equipe de O Comércio com a ginecologista Vanucia Serrano.
Confira:
Jornal O Comércio (JOC): Vanucia, desde que idade é indicado que a mulher procure um ginecologista?
Vanucia Serrano (VS): Eu recebo muito esse tipo de pergunta. Ontem até abri uma caixinha de perguntas no Instagram e veio sobre isso. Minha filha menstruou, eu já preciso levar o ginecologista? Isso é uma dúvida que muitas mães têm. Mas por quê? Por exemplo, essa pessoa que me perguntou, muito provavelmente quando ela menstruou, às vezes não tem uma abertura tão grande com a sua mãe. A partir do momento que tu menstrua, não necessariamente eu preciso ir ao ginecologista agora. Eu preciso saber se esses ciclos menstruais são regulares. Será que essa menina vai se assustar de menstruar? Tem que ter muito diálogo em casa, porque hoje em dia as mães normalmente já falam sobre menstruação, tem uma atitude mais aberta de conversar sobre isso, então, essas meninas quando elas menstruam, elas não estão tão apavoradas como de repente numa geração anterior.
Então não necessariamente quando tu menstrua tu tem que ir [ao ginecologista]. Mas, por exemplo, quando a gente menstrua, existe um tempo ainda que a gente cresce. E aí temos que ver a altura dessa menina com a menstruação. De repente, se a gente vê que ela está menorzinha, que ela não cresceu muito antes de menstruar, às vezes é preciso fazer uma avaliação porque de repente eu posso trancar uma puberdade precoce para poder fazer essa menina crescer um pouquinho mais se a gente vê que a estatura dela não está legal. Mas, muitas vezes, depois que ela menstrua a gente está limitado para essas coisas. Então, tudo depende, na verdade, do desenvolvimento dessa criança. Muitas vezes a gente consegue agir antes e, em outras situações, quando está tudo normal, não necessariamente ela precisa consultar naquele momento. (…) Tem menina que vai menstruar e está muito adolescente já, com um pensamento mais de namoro, um pensamento mais de uma vida sexual, e tem meninas que menstruam que ainda estão numa fase mais infantil, então a mãe tem que tentar perceber isso. E, se ela não perceber ou tiver dificuldade nesse diálogo, vale a pena trazer para consulta, porque muitas vezes a mãe tenta ser amiga e quer ser a melhor amiga. E não é que ela não vai ser tua amiga. Mas muitas vezes, você tem vergonha ou medo de decepcionar sua mãe. Você não vai querer contar algumas coisas para ela, que de repente ela me contaria, porque ela não vai me decepcionar. Ela não tem medo de me decepcionar. Às vezes ela tem um diálogo mais aberto comigo do que teria em casa, então essa mãe tem que perceber essa criança, essa adolescente, essa pré-adolescente para poder entender isso.
E [qual] a idade [normal para menstruar pela primeira vez?]. Ontem veio uma pergunta: se com 9 anos é normal. A partir dos 9 é normal menstruar. Com 14 é normal? 14 é normal. 13 é normal? É normal. Existe uma faixa grande entre menstruar dos 9 aos 14. É um intervalo longo. E o que a gente tem que observar são as outras características. “Nossa, mas a minha [filha] está com 14 e não menstruou”. Mas ela tem mama? Ela tem pelo? Tem um desenvolvimento normal. Mas, de repente, essa menina está com 13 e 14 e não tem desenvolvimento de mama, não tem desenvolvimento de pelos, então essa menina precisa consultar. Eu acredito que tendo uma avaliação, até com o pediatra nessa fase que ainda eles são crianças O pediatra vai se dar conta de alguns detalhes e ele vai acabar nos encaminhando. Mas toda vez que tiver dúvida essa mãe precisa mesmo trazer essa menina, porque é a partir dessa conversa que a gente vai conseguir tomar alguma atitude, porque muitas vezes essa pergunta de Instagram ela vem, mas faltam outros dados para eu conseguir responder essa mãe no Instagram. Porque falta a característica. Tem mama? Tem pelo? Outras coisas. Como é que está a altura dela? Como é que é a altura da família? Eu não vou conseguir delimitar todos esses dados numa pergunta de Instagram.
JOC: Você acredita que falta informação para as pessoas? Uma oportunidade para se falar mais abertamente sobre o tema?
VS: Isso é uma coisa difícil. (…) Dia desses uma professora de ciências de um colégio da cidade me chamou para conversar e para fazer uma aula sobre esse assunto. Eu acho que eles costumam trazer algum profissional para tocar nesse assunto. Mas tem muito problema na escola de a gente conversar porque existem alguns tabus mais religiosos, tem algumas religiões que não permitem algum tipo de conduta, então às vezes uma coisa pode ser mal Interpretada, sabe? Você vai tentar fazer uma educação sexual e algumas pessoas entendem como um estímulo. Outras pessoas entendem como uma necessidade. Então eu acredito que muitas escolas, nessa dificuldade de posicionamento, acabam restringindo algumas questões. Eles acabam mostrando a fisiologia do negócio, uma aula de ciências mais comum, e aí fica essa lacuna em algumas situações por questão dessa dinâmica com família, porque algumas pessoas tem uma mente mais aberta, outras não. É importante, tem estudos mostrando que se você explicar sobre sexualidade, você não está estimulando, você está prevenindo. Mas é bem difícil de tocar nesse assunto. Teve uma escola em Cruz Machado que me chamou e aí eu falei: eu vou precisar da assinatura dos pais consentindo que a gente vai tocar em alguns assuntos de informação. É um estímulo, é uma informação. Porque se não ficaria difícil de eu falar desse tema porque daqui a pouco eu vou ser mal interpretada por alguns pais. E aí a diretora no momento ela desistiu de falar sobre isso. Ela resolveu falar sobre higiene. Ela resolveu falar sobre outras coisas. Para vocês perceberem a dinâmica como é difícil quando você vai falar em público desse tema, porque alguns pais podem interpretar de uma maneira difícil, equivocada.
JOC: A partir do momento em que a menina menstrua, quais são as principais alterações psíquicas e físicas pelas quais ela passa?
VS: A literatura percebe que elas estão menstruando mais cedo. Elas são mais estimuladas. Os hormônios que a gente ingere. Os conservantes. O uso de algumas coisas que vêm dentro dos alimentos industrializados. E até o psicológico da gente é mais estimulado com a internet. Então a menstruação está vindo mais cedo. A menopausa está vindo um pouco mais cedo também. E aí, com isso, muitas vezes eles não estão preparados, esses cérebros, pra tanta coisa diferente, tanta informação. E o que acontece é que tem muita informação, mas não necessariamente essa informação que elas absorvem, que a gente absorve, na internet, é certa. Até a gente tem dificuldade, como adulto, de conseguir separar o que é certo e o que é errado. Por isso que eu acho que a consulta hoje em dia tem sido muito válida para elas ouvirem de algum profissional que realmente tem conhecimento. E não da blogueira. Não estou falando que a blogueira não saiba. Deve ter várias que vão ter uma informação boa mas, muitas vezes, elas vão escutar um tema de uma versão de alguém que não entende daquele tema aprofundadamente. Acho que é importante que elas venham na consulta mesmo.
Dano físico, psicológico, essas coisas tem muito, porque existe uma limitação da tua rotina com a menstruação. Por exemplo: você quer ir na piscina, mas elas têm ainda um pensamento logo que menstruou mais infantil. Praia, limita uma viagem de final de ano com a turma que elas esperaram o 9º ano chegar para ir naquela viagem e estariam menstruadas naquele dia. Claro que tem coisas para se fazer. Por exemplo, uma adolescente mesmo não tendo tido vida sexual ela pode usar um absorvente interno. Só que depende da mãe autorizar que isso seja feito. Eu tenho meninas que chegam pra mim em consulta com um absorvente pequenininho, mini, e dizendo: doutora trouxe pra você me ensinar a usar. E aí a gente consegue na consulta explicar pra elas como usa. Elas colocarem, não vai lesionar. Mas é importante elas trazerem porque eu tenho receio que em casa elas façam isso e se machuquem. Elas não conhecem bem a anatomia delas. Então é importante trazer em uma consulta para orientação.
JOC: A partir do momento que surge a primeira menstruação, qual é a orientação para essa adolescente?
VS: Ela tem que anotar os ciclos dela, porque nos primeiros dois anos esse ovário pode não estar tão maduro e com isso ter uma irregularidade menstrual. E existem algumas doenças que podem também se manifestar nessa fase. Uma alteração de coagulação. A pessoa às vezes menstrua muito e ela nem sabia que tinha uma alteração de coagulação. Ela pode ter uma falta de menstruação e ser por uma imaturidade do ovário, mas ela pode ter uma falta de menstruação por um ovário policístico. Então ela tem que anotar esses ciclos. Quando uma mãe que veio consultar e fala preciso trazer minha filha? Eu falo: ela menstruou? Anota pra mim os ciclos dela. Se estiver tudo bem, se orientou, se ela está tranquila com a menstruação, espera ela menstruar alguns mesinhos para a gente ver essa regularidade e aí eu conseguir conversar com ela entendendo como vai ficar essa menstruação. Agora, se ela está com dificuldade, está com vergonha disso, não gosta de menstruar, criou uma barreira com essa menstruação, já me traz ela e vamos conversar sobre isso. Vamos entender que isso é fisiológico, que isso é normal, que tem como a gente conseguir melhorar alguns sintomas que podem vir com isso pra poder deixar isso mais confortável, porque a pessoa vai menstruar 30, 40 anos da sua vida. Não pode você achar que isso é uma tragédia, fazer disso um problema.
JOC: E quanto ao ciclo, o que é considerado normal?
VS: Isso é bem interessante, porque o normal é 28 dias. Mas sete dias para mais, sete dias pra menos, você considera ainda dentro do normal. E muitas vezes elas anotam assim: menstruei dia 10, no mês que vem elas acham que é dia 10, no outro mês elas acham que é dia 10. O que acontece? Um mês tem 31 dias, um mês tem 28 dias, um mês tem 30 dias. Então não necessariamente o teu ciclo vai lembrar que hoje é dia 10. Por exemplo, a cada 25 dias. Se eu menstruasse dia 1º, ia menstruar dia 25 de novo. E a pessoa diz meu Deus, menstruei duas vezes no mesmo mês. Mas se o ciclo é de 25dias, tem mês que vai dar duas vezes, tem mês que vai dar uma vez, porque vai dar dia 1º, dia 25 e mês que vem vai dar dia 20. Ela vai dizer: estou toda desregulada. Por isso que eu preciso dessas datas anotadas, porque muitas vezes a pessoa entende uma data, um dia específico do mês, e ela quer que a menstruação venha mais ou menos perto daquele dia, mas se o ciclo é mais curto ou mais longo vai mudar, e aí só vai conseguir enxergar explicando pra ela, contando o número de dias que tem de intervalo. E outra coisa importante é endometriose, que é uma doença que o diagnóstico tem sido tardio porque muitas vezes a pessoa acha que a cólica é frescura. Ela está querendo faltar aula. Ela está querendo chamar atenção. E essa adolescente que tem uma cólica absurda, uma cólica fora do normal, não é aquela cólica que alivia com analgésico comum. Essa adolescente já tem que ir consultar porque de repente você vai fazer um diagnóstico precoce agora, que não vai interferir numa dor crônica lá na frente, que não vai interferir em fazer uma gravidez fora do útero, que não vai interferir numa infertilidade lá na frente. É na adolescência que eu vou conseguir fazer o diagnóstico precoce. Muitas endometrioses vêm com o tempo, com a vida, com fatores inflamatórios. Mas muitas são falta de diagnóstico na adolescência, que vai persistindo aquela dor e aí o paciente vai fazer um diagnóstico tardio lá na frente.
JOC: Vamos falar um pouco da vida adulta da mulher. Qual é a frequência que você indica que a mulher vá ao ginecologista?
VS: Ela tem que consultar anualmente, pelo menos. Por que anualmente? Existem exames para se fazer. Existem alguns exames de sangue que a gente faz para rastreamento. Acaba que a ginecologista é uma clínica geral do paciente, porque é com quem a pessoa vai falar, você vai conseguir identificar nessa conversa, nessa anamnese a necessidade de outros exames. Numa vida mais jovem, você não fica fazendo exame todo o ano, de rotina. Mas, de repente, essa paciente mudou de parceiro, teve uma relação desprotegida e você vai conseguir tentar entender que exames você vai pedir de acordo com aquela necessidade.
O preventivo mesmo, o pré-câncer, o papanicolau, o citopatológico, que é tudo a mesma coisa, é o mesmo nome pra um exame só. Ele é feito a partir dos 25 anos. Muitas meninas procuram a gente com 18, 19, 20 anos. Elas querem fazer o preventivo, mas nessa fase ela tem necessidade de fazer um exame para rastrear doenças sexualmente transmissíveis, que são as ISTs, as infecções sexualmente transmissíveis, que são cervicites, são infecções do colo do útero. A coleta é igual a do preventivo, mas você vai identificar algumas bactérias que muitas vezes são assintomáticas e que essa bactéria vai aderir no colo do útero e vai subir. Pode fazer uma aderência na trompa e essa paciente não engravidar lá na frente. Ela pode causar alguma coisa que a paciente não sabe. Uma dor pélvica, alguma coisa que eles vão estar nesse momento identificando para prevenir lá na frente.
O preventivo mesmo, ele vê HPV. É esse o principal objetivo dele. Tem outras coisas que a gente consegue ver, que são algumas, outras coisas que a gente vai rastrear, mas o principal é rastrear as lesões que são causadas pelo HPV. O HPV é a IST mais comum que temos na atualidade. Mais de 60% da população é contaminada e não sabe disso. Por isso que hoje a gente tem que tomar a vacina. A vacina é para os adolescentes, preferencialmente, na idade em que eles ainda não começaram a vida sexual. Mas muitos de nós, dependendo da faixa etária, nem foi vacinado. E, além disso, a vacina é para quatro tipos de vírus. Agora saiu uma mais completa. Mas existem inúmeros HPV. A gente não consegue que a vacina seja pra todos, por isso que tem o rastreamento. No preventivo a gente consegue pegar uma lesão pré para tratar e realmente você não tem um câncer, porque o câncer do colo e do útero ele é relacionado realmente com o HPV. Então ele é totalmente prevenível.
JOC: Vanucia, qual o seu alerta para as mulheres a respeito do câncer de mama?
VS: Muitas mulheres chegam [no consultório] e não querem fazer mamografia. Qual a idade para a mamografia? A mamografia é a partir dos 40 anos para todo mundo. A sociedade de mastologia, ela pede que seja feita anualmente. Mesmo que você tenha feito ano passado, você tem que fazer de novo esse ano,e isso é anualmente. Isso é muito importante. O preventivo, depois que você tem um número de preventivos normais, você pode até dar um intervalo maior. A mamografia não tem esse intervalo.
Qual é o maior risco para câncer de mama? Paciente que tem um histórico familiar de primeiro grau. Teria que ser mãe ou irmã. Então muitas vezes tem uma tia, uma avó. Aumenta o risco? Você pensaria que deve aumentar, porque tem na minha família. Mas, pra dizer que realmente aumenta, é parente de primeiro grau, que é mãe ou irmã. Essas pessoas que tiveram mãe ou irmã [com caso de câncer de mama] elas tem que ver a idade que a mãe ou irmã teve. Vamos supor que a mãe ou a irmã teve com 45 anos. Elas tem que começar 10 anos antes do que a idade que a mãe ou irmã teve. Então pra essas pacientes o rastreamento é diferente. E pra todas as outras, vai começar aos 40 anos. Se essa mãe ou irmã teve com 50, ela começaria 10 anos antes. Ela começa com 40, que é a idade normal que já teria que começar mesmo, mas se a mãe ou irmã foi acometida mais precocemente, elas vão ter que começar a mamografia mais precocemente.
E as pacientes falam: ai, eu quero fazer um ultrassom da mama, a ecografia da mama, que é um exame que é com gelzinho, que não aperta a mama. Esse exame não vê microcalcificações, que é o diagnóstico mais precoce do câncer de mama. Ele não vai conseguir ver um pontinho branco. Então é lá nesse raio X, que é a mamografia, nesse tipo de exame radiológico que a gente consegue ver um pontinho, quando o câncer, por exemplo, não é palpável. A ecografia, ela já vai ver um pouco mais na frente, então a gente muitas vezes não vai ter uma cura. Muitas vezes você pode perder de curar esse paciente, um diagnóstico mais tardio, que vai gerar mais tratamento, um pouco mais invasivo, do que de repente se eu tivesse descoberto pela mamografia antes desse paciente sentir. E a gente começa a sentir a partir de um centímetro. Quando ele é um pontinho ele é muito menor do que um centímetro. A mão habilitada, que é do profissional, começa a sentir com um centímetro. O paciente sente com um pouco mais.
JOC: Falamos sobre o ciclo menstrual, passamos pelos exames de rastreamento. E o outro lado, a menopausa? Com que idade geralmente ela chega?
VS: Ela vem dos 45 aos 55. Hoje, a média da mulher brasileira é 49 anos para entrar em menopausa. Menopausa mesmo é um ano sem menstruar. Então aquela fase inicial que um mês vem, dois não vem. Os sintomas a gente chama de climatério, que é a fase que antecede a menopausa. E isso pode durar 5 anos, 7 anos. É até mais difícil de você tratar a paciente nessa fase porque os sintomas são altos e baixos. Aquele mês que ela ovulou, ela tá boa. Depois ela fica dois, três meses sem ovular e ela tá péssima. Então é bem difícil de você tratar. Você tem que estar com a paciente em cima, porque esse mês ela é uma, mês que vem ela é outra, sabe? E tem que tratar, porque muitas vezes os sintomas, as pessoas esperam calorão. A maioria das vezes tu fica esperando pra ver esse calorão, esse fogacho chega. Só que esse é o sintoma mais tardio, na maioria das vezes, dos mais comuns. Porque nós temos três hormônios principais dessa parte sexual que é a testosterona, que as pessoas entendem como hormônio masculino, mas as mulheres também tem a progesterona e o estradiol. O último que cai é o estradiol e esse estradiol é quem dá o fogacho quando ele cai. Dois já caíram antes e aí os sintomas são muito inespecíficos. Eu não aprofundo o sono, daí você pensa que é preocupação. Você pensa que é porque o teu filho acorda de noite. Você pensa que é porque de repente você se acostumou com a maternidade a acordar. E daí você já não dorme mais tanto. Normalmente tem a ver com a queda da progesterona. A testosterona [está ligada a] diminuição da energia, diminuição da libido. A libido tem outras questões também, que não é só hormonal, mas é uma das causas. Você tem falta de energia, falta de disposição, cansaço. Então tem vários sintomas que são confundidos com estresse, com preocupação, com a vida que é corrida. E muitas vezes são quedas hormonais. Existe uma piora da tensão pré-menstrual. As mulheres que nem tinham essa tal de TPM começam a sentir por conta da queda da progesterona. O ciclo pode ficar um pouco irregular. Geralmente, quando a menstruação muda, ou o tal do calor vêm, elas entendem que estão precisando consultar. Mas muitos dos sintomas anteriores são confundidos com o dia a dia e elas acabam chegando mais tarde para tratar.
JOC: O que é fundamental para uma mulher envelhecer com saúde?
VS: Atividade física, alimentação e sono. Na verdade, a gente tem que desinflamar nosso corpo. Nós temos que ter hábitos bons. Eu brinco que aquele tapa e assopra. Sabe aquela coisa? Dá um tapinha e dá uma assoprada. É difícil a gente conseguir ter uma vida totalmente sem estresse. Aquela coisa utópica. Então é como se a gente desse um tapinha. Dei uma estressada, mas eu faço exercício físico. Eu compenso os fatores inflamatórios. Eu dou uma estressada, mas eu durmo à noite. Compensei. Eu dou uma estressada mas eu consigo me alimentar saudável. Agora, se você inflama com a alimentação, inflama sendo sedentário, inflama com vícios, não dorme à noite ou dorme muito tarde.
O interessante é a gente trazer a nossa vida lá para trás. O que era lá quando Deus nos fez. A gente não precisava ir para a academia porque a pessoa plantava, caçava. Era assim que se alimentava. As coisas não eram industrializadas. Eram da natureza. E as pessoas dormiam, porque não tinha luz elétrica, não tinha celular. A nossa retina ela entende se é noite ou dia, só que hoje em dia a gente não consegue mais saber se é noite ou dia porque a gente tem luz acesa, então com isso nossos hormônios foram feitos para noite ou dia e a gente consegue confundir eles. A gente acabou estragando um pouquinho a nossa natureza, com essa vida mais corrida, com essa industrialização, a modernidade veio e a gente se adaptou a ela. A gente não trouxe ela para nos ajudar. A gente acabou estragando um pouquinho a nossa saúde. Hoje você vai ver o alimento sem agrotóxico, a feirinha que traz o produto. A academia que tem agora é mais fácil, mas tem uma geração aí que é da minha idade, um pouquinho mais para trás, que é a geração que não viu a mãe ir para a academia e que agora tem que se esforçar para fazer isso. Eu vejo que os meus filhos já fazem academia e eles acham que isso é normal, porque eles veem a mãe e o pai fazendo. Tem um período de tempo aí que ficou entre o pai que plantava e o pai que trabalhava mas não ia para a academia, e agora a gente está tentando criar esse hábito. É difícil, muitas vezes é bem custoso para aquela pessoa sair da sua zona de conforto, sair da sua rotina, porque aquilo ela não nasceu vendo a academia, não nasceu vendo a atividade física. A gente pegou a modernidade. Eu peguei aquela fase que a Coca-Cola era de 1 litro e eu tinha que dividir para todos lá de casa. E aí tu fica, meu Deus, quanta Coca-Cola agora, sabe? Nem é caro. Às vezes é mais caro comprar água do que Coca-Cola, um suco natural do que a Coca-Cola. Às vezes é mais barato a gente estragar do que a gente fazer o certo. Hoje a gente tem muita dificuldade em trazer as pessoas para o certo, porque hoje, para essa geração, é muito prático você comer errado. É mais caro você comprar uma salada, uma comida fresca, do que de repente você pegar uma coisa no mercado industrializado, fechadinho no pacote. O detalhe é a gente trazer a nossa vida para o antigo. É tentar dormir no horário que realmente a luz baixa. É ir baixando a luz, tentar dormir com o celular longe, tentar não despertar, é trazer a vida da gente para o natural.
JOC: Vanucia, que recado você deixaria para as mulheres que estão lendo essa entrevista?
VS: Principalmente agora, que é o mês da mulher, (…) eu acho que é importante bater nessa tecla, porque as mulheres elas vêm com um instinto muito maternal. E não só em relação a filhos. Tem pessoas que não tem filhos mas elas têm um cachorrinho, elas têm uma família que elas viram mãe, e elas esquecem dela. Eu sempre falo que no avião, quando a gente recebe aquela orientação que se faltar o oxigênio, máscaras vão cair, eles sempre falam primeiro coloque em você para depois colocar no que está do teu lado. Então, se você não estiver bem, você não consegue atender o próximo. Não vai adiantar você botar a máscara de oxigênio do teu filho, ou seja cuidar dele, se você morrer, se você não se cuidar, porque a longo prazo ele não vai ter você mais para cuidar dele. Enquanto você não se coloca como prioridade, é muito difícil que você consiga ter uma longevidade com qualidade. Não estou dizendo que as mulheres não precisam ser maternais, não precisam cuidar da família. Elas podem ter tudo isso, mas elas precisam também ter o tempo de cuidar delas, e isso é muito importante para que elas consigam manter esse instinto para o resto da vida, cuidando delas e cuidando dos outros.
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