Vale do Iguaçu e região se unem em prol do Rio Grande do Sul
O nível dos rios em várias cidades do Rio Grande do Sul já se normalizou. As águas retornam para seu leito habitual, deixando para trás as imagens da destruição da maior cheia do estado. Cerca de 93% dos municípios gaúchos foram atingidos. Até a quinta-feira, 23, o estado havia confirmado 163 óbitos em decorrência da catástrofe climática. Pouco mais de 2,3 milhões de gaúchos foram afetados.
Neste momento de reconstrução em muitos pontos do estado, as cidades do Vale do Iguaçu e região se uniram em uma corrente de solidariedade em prol do Rio Grande do Sul. Em União da Vitória, as doações dos munícipes foram concentradas na Estação União e no Corpo de Bombeiros, resultando, até o momento, em cinco carretas de donativos encaminhados aos gaúchos por meio da Defesa Civil do Paraná. A administração municipal também disponibilizou para a Defesa Civil do Rio Grande do Sul caminhões pipa para auxiliar na limpeza das ruas de municípios gaúchos, além de milhares de cobertores e mais de 20 mil peças de roupas para as vítimas das enchentes.
“São lamentáveis as cenas que a gente vê de tanto sofrimento, de perdas que as pessoas têm, e lá ainda mais de perdas humanas, de dezenas de perdas humanas que aconteceram. É muito triste ver isso. A gente tem que se mobilizar para tentar amenizar um pouco essa situação, através das ajudas que estão vindo de todo o Brasil, nossa região se mobilizando, todas as cidades se mobilizando. (…) A gente pede para toda a sociedade organizada que continue doando. A prioridade agora são a água, os produtos de limpeza, produtos de higiene pessoal, e cobertores. (…) A gente tem visto o nível de destruição que aconteceu lá e a gente tem que estender a mão para os nossos irmãos gaúchos e é isso que a gente tem visto”, comenta o prefeito de União da Vitória, Bachir Abbas.
As demais cidades da Associação dos Municípios Sul Paranaense (Amsulpar) também têm colaborado, inclusive com a doação de remédios. “É uma catástrofe, precisamos nos ajudar. É dando as mãos, é assim que deve acontecer. Já mandamos também alimentos, já mandamos roupas, já mandamos colchões. (…) Nossa gratidão a todos aqueles que estão ouvindo os clamores do povo gaúcho, e nesse momento é de fato se dar as mãos, se ajudar, não há outro caminho. Claro que tem vários organismos governamentais envolvidos, mas a ajuda humanitária é de extrema importância, e quero aqui em nome da Amsulpar, prefeitos e prefeitas, de todas as organizações também não governamentais que se envolveram, agradecer. Agradecer do fundo do coração toda essa bela ação”, relata Antonio Luis Szaykowski, prefeito de Cruz Machado e presidente da Amsulpar.
Igrejinha
A exemplo do que aconteceu no Vale do Iguaçu durante a enchente de 1983, em que as cidades foram “adotadas” por outros municípios para receber ajuda humanitária, Porto União adotou a cidade de Igrejinha, e destina todas as doações que recebe para esse município gaúcho.
Na quarta-feira, 22, um comboio que saiu do Vale do Iguaçu chegou ao município gaúcho. As empresas Hobi, GR Extração de Areia, Ceres (Grupo Ravanello), Superagro, Pormade e Grupo Farinella disponibilizaram caminhões para levar máquinas da prefeitura, cederam o próprio maquinário para limpeza das ruas e casas em Igrejinha, e também enviaram profissionais que ficarão cerca de 15 dias na cidade, auxiliando a população. Nos próximos dias, a expectativa é de que Porto União envie cerca de 500 colchões, 500 travesseiros e 600 cobertores para Igrejinha. Também haverá entrega de aproximadamente duas mil portas, além de material de pintura.
“Eu não tenho palavras para externar a minha gratidão e creio que a população de Igrejinha está muito feliz com Porto União, União da Vitória e toda a nossa região. Todos os municípios da região aqui do Planalto Norte Catarinense, do Sul Paranaense, todos ajudando. Isso é muito lindo, é muito bonito, é emocionante. Quero aqui parabenizar os empresários que aceitaram o desafio. O que está acontecendo aqui na nossa região é algo jamais visto. É fenomenal. As doações não param de chegar aqui no Corpo de Bombeiros. (…) Que bom que nós temos o apoio de todos esses empresários que estão nos ajudando porque assim realmente as coisas acontecem. É com a união dos povos, é com a força empresarial da nossa região, mas principalmente com a força de cada um. Você que doou um quilo de arroz, você que doou um quilo de feijão, você que doou uma lata de óleo de soja, você que doou um pacotinho de bolacha, qualquer coisa que você doa é o amor, é a gratidão, é a solidariedade do nosso povo que está aqui no Corpo de Bombeiros de Porto União. Então só tenho a dizer a todos, parabéns, muito obrigado e vamos continuar trabalhando”, declara o prefeito de Porto União, Eliseu Mibach.
Encantado
Bituruna é mais uma cidade da região que está ajudando um município gaúcho, nesse caso, trata-se de Encantado. Por lá, segundo o prefeito biturunense, Rodrigo Rossoni, a maior parte dos estragos foi causada pelas enxurradas. A situação, segundo ele, é de um cenário de guerra. “Eu já estive lá. Eu saí de Bituruna na sexta-feira de tarde, cheguei lá de madrugada, no sábado, e trabalhamos o dia inteiro fazendo distribuição, fazendo marmitas com o pessoal, e retornamos no sábado à noite, chegando de madrugada novamente em Bituruna. Então eu já presenciei isso. Realmente, quando eu estive na cidade de Muçum, olha, até me desanimou o resto da tarde porque imagina o sofrimento daquela gente. É impressionante. Tinha um prédio de mais ou menos uns seis andares, eu calculo que devia ter, não me lembro muito bem. O rio está com nível, hoje, que já voltou ao normal, ele está 25 metros longe desse prédio. A água chegou no terceiro andar. É 25 metros mais três andares. Imagina o que aconteceu com a cidade. Uma enxurrada, que é diferente de União da Vitória. Claro que prejudica demais, mas imagina a força dessa água. Uma corredeira tão forte que arrancou empresas inteiras. Tem empresa que não tem nem um pilar mais de pé”, recorda.
A cidade paranaense enviou para Encantado uma equipe multidisciplinar formada por cozinheiros, médicos e auxiliares médicos, todos atuando de forma voluntária. Além disso, Bituruna também já enviou um bitrem carregado com água, alimentos, produtos de limpeza, colchões, roupas, calçados, entre outros donativos. “É doação do trabalho da nossa gente. Me deixa muito orgulhoso da equipe médica, dos enfermeiros, dos cozinheiros, de todos aqueles que nos ajudaram a diminuir um pouquinho a dificuldade do povo em torno de Encantado”, comenta Rodrigo.
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