Os 131 anos da imigração ucraniana e a importância da etnia para o Brasil e para a nossa região

Os anos de 2021 e agora 2022 não estão sendo nada fáceis para a humanidade. Começou em 2020 com a pandemia do Coronavírus/Covid-19, que só do Brasil tirou a vida de mais de 650 mil brasileiros, o que ainda causa grande preocupação.

E agora, em 2022, a inexplicável invasão da Rússia à Ucrânia, que vem causando estragos à infraestrutura daquele país democrático, tirando também a vida de centenas e centenas – inclusive de crianças – de ucranianos, causando uma dor profunda em milhares de brasileiros descendentes da etnia, principalmente no Paraná, que é o Estado com a maior comunidade ucraniana no Brasil.

Os 131 anos da imigração ucraniana

Foto: Reprodução


Os motivo da dolorosa imigração dos ucranianos na década de 1890

Galícia – região oeste da Ucrânia Galícia, foi província do império austro-húngaro de 1772 até 1918. E é por isso que os ucranianos vieram com passaporte austríaco ou polonês. Na época da imigração, os ucranianos eram conhecidos como rutenos.

No final do século XIX a Galícia era uma província que pertencia ao império austro-húngaro e abrangia sul da Polônia e sudoeste da Ucrânia.

Em 1890 a região tinha 4 milhões e 300 mil habitantes, dos quais 65% eram ucranianos, 15% poloneses, 12% judeus e o restante austríacos e alemães.

A Galícia era a região mais densamente povoada na europa. Além disso, havia uma grande desproporção étnica-social quanto à ocupação das terras.

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A maioria dos ucranianos era proprietária de 48% das terras, enquanto 2 mil latifundiários poloneses eram donos de 30% das terras, e 22% dessa terra era da população agrícola polonesa.

Para sobreviver os ucranianos tinham apenas 2,6 hectares de terra. O governo austríaco não tomava nenhuma providência para alterar ou melhorar essa situação.

Região pobre e carente de terras, a solução era emigrar para outro país. Inicialmente os ucranianos emigraram para os Estados Unidos, em seguida para o Canadá e finalmente para o Brasil, além de outros países, como Austrália, Argentina, Venezuela, etc.


131 anos da imigração ucraniana no Brasil

Os descendentes de ucranianos no Brasil constituem hoje uma comunidade de mais de 500 mil pessoas e estão localizados em sua maioria, cerca de 80%, ou seja, acima de 400 mil, no Paraná e os demais no norte de Santa Catarina, Rio Grande do Sul, São Paulo, Rio de Janeiro, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Rondônia, Brasília, Minas Gerias, e outros estados em pequena quantidade.

No Paraná a maior concentração de ucranianos encontra-se em Curitiba, com aproximadamente 55 mil pessoas (cerca de 3% da população local), mas o maior percentual local ocorre no município de Prudentópolis, onde em uma população de acima de 50 mil, os habitantes de origem ucraniana somam mais de 38 mil, ou seja, cerca de 75% da população local, seguido de Mallet, onde o percentual de descendentes de ucranianos gira em torno de 60%, Paulo Frontin com aproximadamente 55%, Ivaí e Antonio Olinto com aproximadamente 45%, Rio Azul e Roncador com aproximadamente 30%, União da Vitória e Paula Freitas com aproximadamente 25%,

Cruz Machado e Pitanga com aproximadamente 20%, Irati aproximadamente 12%; em outras cidades o percentual é abaixo de 10%.

Na organização civil destaca-se a Representação Central Ucraniano-Brasileira (RCUB), que em sua forma atual foi constituída em 1985. Ela congrega e representa diante dos órgãos governamentais e entidades civis nacionais e estrangeiras as principais entidades constituídas na comunidade e suas organizações.

A Igreja Ucraniana Católica no Brasil é a maior organização comunitária de cunho religioso e cultural entre os ucranianos no Brasil. Está presente aqui, junto aos ucranianos e seus descendentes, desde 1896.

Os 131 anos da imigração ucraniana

Paróquia São Basílio Magno. Foto: Reprodução

A Igreja Ortodoxa Ucraniana no Brasil, sob a jurisdição do Patriarcado Ecumênico de Constantinopla, tem 1 arcebispo, 2 protopresbíteros mitrados e 8 padres, 47 subdiáconos, 18 igrejas e 2 padres atuando fora do Brasil.

Nas diversas comunidades locais atuam Grupos Folclóricos atualmente 24, sendo os mais antigos o Barvinok (Curitiba-1930), Vesselka (Prudentópolis-1958), Kalena (União da Vitória/Porto União-1969), Poltava (Curitiba-1985).


Os primeiros imigrantes ucranianos

Num quadro organizado a partir do livro História do Paraná, Pinheiro Machado & Westphalen (Curitiba, Grafipar, 1969), constam duas colônias oficiais criadas em 1891: Colônia Santa Bárbara no município de Palmeira, povoada por poloneses, ucranianos e italianos e Colônia Rio Claro no atual município de Mallet, colonizada por poloneses e ucranianos.

As informações documentais sobre os imigrantes ucranianos encaixam-se exatamente nessas datas.

Testemunho pessoal de Ivan Pasevich, que em suas memórias publicadas inicialmente no jornal Pracia de Prudentópolis no dia 22/12/1951 escreve que saiu da Ucrânia, da vila Serveriv, município de Zolochiv, no mês de maio de 1891, junto com seus pais Teodoro e Sofia e mais três irmãos, ou seja, 6 pessoas, que se estabelecem na Colônia Rio Claro. Informa também, que junto com eles chegaram ao Brasil, até Paranaguá, mais 3 famílias ucranianas.

Está documentada também a chegada de outra 6 famílias, num total de 32 pessoas, que em 1891 se estabeleceram na Colônia de Santa Bárbara, no município de Palmeira (PR), vindas também de aldeias da Ucrânia ocidental.


Por isso em 1991 foi comemorado o Centenário da Imigração Ucraniana no Brasil

Naturalmente o fluxo imigratório se intensificou nos anos seguintes e em 1895 tomou proporções muito grandes (falava-se na vinda de mais de 5 mil famílias) e continuou intenso até pelo menos 1911. Houve também um modesto fluxo imigratório após a 1ª Guerra Mundial e outro após a 2ª Guerra Mundial.

Após a independência da Ucrânia (a partir de 1991) o registro da vinda ao Brasil de algumas dezenas de ucranianos que aqui fixaram residência permanente. Trata-se em sua maioria de profissionais altamente qualificados, que aqui encontraram meios de vida estável. Outros que aqui chegaram por razões diversas, obtiveram a permanência em virtude de casamento com brasileiros ou por legalização.

Há que destacar-se a importante contribuição dos ucranianos na colonização e desenvolvimento da agricultura no centro-sul do Paraná e no centro-norte de Santa Catarina, no início do plantio de centeio e trigo e outros cereais, na implantação do sistema de cooperativas, enfim, no desbravamento e desenvolvimento dessa região. Dos filhos, netos e bisnetos dos valentes emigrantes formaram-se empresários, profissionais liberais como engenheiros, médicos, advogados, dentistas, e outros, como também professores, líderes comunitários, políticos, enfim cidadãos atuantes, que ajudaram em muito a promover o progresso da região sul e de todo o Brasil.

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Na cultura destacaram-se dois nomes merecedores de todo o respeito e admiração: o pintor Miguel Bakun, nascido em Mallet (PR), filho de emigrantes ucranianos, conhecido pelas suas obras de arte como o “Van-Gogh” do Paraná, cujo centenário de nascimento foi oficialmente comemorado no Estado do Paraná em 27 de outubro de 2009; e o outro nome ilustre é o da poeta maior do Paraná, Helena Kolody, também filha de emigrantes ucranianos, nascida em Cruz Machado (PR) em 12 de outubro de 1912, cuja obra poética é merecedora da mais alta admiração.

Por essas personalidades, e tantas outras, em sua maioria anônimas, mas atuantes e merecedoras de admiração e reconhecimento, continua essa linda história de 120 anos, que engrandece os ucranianos e seus descendentes, nesse país que os acolheu, vindos de uma pátria distante, hoje livre e soberana.


Grupo Folclórico Kalena – nosso grande orgulho!

Além de bem organizada, a comunidade brasileira-ucraniana em nossa região, preserva com dedicação sua cultura, representada pelo Grupo Folclórico Kalena, com projeção nacional e até internacional. E, na área da literatura, a imortal Helena Kolody, natural de Cruz Machado.

Foto: Reprodução

*Com informações de Mariano Czaikowski, Ivan Franko e Pinheiro Machado.

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