Você sabe o que faz um consultor de imagem e estilo?
A crença popular diz que a primeira impressão é a que fica. Por isso, existem profissionais que se dedicam a garantir que as pessoas causem impacto da melhor maneira possível. Esse é o caso da consultora de imagem e estilo Melina Paula Iwanko, que há cerca de dois anos ajuda seus clientes a conquistarem o visual de seus sonhos.
Segundo Melina, a intenção desse tipo de consultor é adequar a imagem do cliente para aquilo que ele almeja alcançar, seja uma promoção, conquistar um novo amor ou até mesmo recuperar a autoestima perdida. “Existe esse caso do cliente que está querendo crescer na carreira, mas também tem casos de mulheres que acabaram de se separar e estão precisando recuperar autoestima, tem pessoas que simplesmente acham que não tem estilo e aí querem dar uma atualizada, querem ter um pouco mais de noção dessas coisas de moda, então eu recebo muitos clientes nessa linha, mas existem inúmeras questões”, comenta.
Para a consultora, uma boa primeira impressão permite que a pessoa tenha oportunidade de mostrar outros atributos. Melina explica que é preciso sete segundos para que uma opinião sobre a imagem de um terceiro seja formada, por isso, uma aparência agradável pode ajudar a abrir portas. “Você pode ser a pessoa mais inteligente do mundo, mas se a sua imagem não está dizendo isso a teu respeito a chance de você mostrar para alguém a sua inteligência é só verbalmente, e para você chegar nesse lugar de ter esse espaço de conversar com alguém importante a gente tem uma regra dos sete segundos em que a pessoa faz uma leitura a teu respeito quando ela te conhece. Isso não é que nós sejamos preconceituosos, mas a neurociência explica isso. O nosso cérebro gosta de coisas bonitas, então se você olha uma pessoa que está bem alinhadinha, harmônica, o nosso cérebro gosta disso então você se interessa, ela se torna uma pessoa interessante. Não é bonita, existe uma diferença grande aí. Não é questão de beleza, é questão de você ser atrativo. E aí a pessoa vai falar ‘poxa, talvez ela tenha alguma coisa interessante para me falar’ e então pode te dar essa chance. Ao contrário de você estar toda descabelada, de qualquer jeito. Pode acontecer, mas é muito mais difícil você ter essa chance”.
Como funciona a consultoria?
A moda sempre foi uma das paixões de Melina. Desde pequena era atraída pela customização de roupas, tanto é que nem seus uniformes escolares escapavam das mãos de sua criatividade. Já adulta, Melina passou a trabalhar com produção cultural, mas sem se distanciar de seu gosto de infância. Em sua roda de amigos, Melina era sempre a escolhida como companhia na hora das compras, devido às dicas que era capaz de dar. Foi então que Melina descobriu a consultoria de imagem e estilo e, levando sua aptidão em conta, resolveu dar uma chance à profissão. “É uma coisa que eu consigo conciliar porque sou eu que faço a minha agenda, eu consigo conciliar com a produção cultural, então porque não aproveitar?”
Suas primeiras consultorias aconteceram no final de 2019. Melina, então, começou a se especializar por meio de cursos e muita pesquisa. E, mesmo durante a pandemia, conseguiu dar continuidade ao trabalho de forma online. Atualmente, a consultora atende de forma presencial em União da Vitória e Curitiba, e de forma remota para qualquer outro lugar do país.
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O processo da consultoria aplicada por Melina é constituído por quatro etapas. A primeira é um bate-papo inicial em que o cliente explica quais seus anseios e preferências. Neste momento também é realizado o teste de coloração, para descobrir quais cores mais o favorecem, além do teste de biotipo e formato de rosto e, por fim, o teste de estilo.
A segunda etapa é o chamado closet clearing, que consiste na realização de uma curadoria das peças disponíveis no guarda-roupa do cliente. Nesta fase Melina consegue definir quais peças se encaixam no novo visual pretendido e quais podem ser doadas ou descartadas, caso não estejam mais em condições de uso. É durante o closet clearing, também, que Melina identifica quais itens poderiam ser adquiridos para compor o novo guarda-roupa.
Em seguida vem a etapa do personal shopper, em que Melina seleciona peças para o cliente, tanto de vestuário quanto de calçados, de acordo com as necessidades identificadas na etapa anterior. O closet clearing e a compra de novas peças, contudo, não são obrigatórias durante a consultoria. Melina explica que, caso o cliente não se sinta confortável em se desfazer de alguma peça ou não tenha condições de investir em novos itens no momento, a consultoria pode seguir sem problemas. “Acontece da cliente, às vezes, não estar pronta para isso, é muito apegada. [O closet clearing] também não é aquela coisa do Esquadrão da Moda, não jogo fora a roupa. Eu vou tentando fazer a cliente perceber, e ela por si só vai lá no guarda-roupa e tira a peça quando ela realmente está preparada”.
Por fim, é realizada a quarta etapa, que consiste na montagem de looks. Nesta fase, Melina cria composições que darão certo para o cliente. Algumas delas podem ser montadas presencialmente, mas o grande diferencial é o dossiê que o participante da consultoria recebe no final do processo. Melina fotografa uma série de looks e monta uma espécie de guia de estilo, personalizada com as necessidades e anseios do cliente. Ainda, durante um ano, a pessoa que participou da consultoria conta com o acompanhamento de Melina para que se possa tirar dúvidas a respeito de peças que pensa em adquirir ou composição de novos looks.
Apesar de haver uma espécie de método nas etapas aplicadas, Melina destaca que sua abordagem é completamente personalizada para cada cliente, visando manter sua personalidade mesmo após a consultoria. “Eu sou completamente contra a gente colocar as pessoas dentro de uma caixinha. Existem as técnicas que a gente aprende dentro da consultoria de imagem, porém não adianta você colocar todo mundo nessa caixinha, chacoalhar e ir ditando regras. Eu, particularmente, trabalho com uma consultoria muito personalizada”.
Uma atividade para todos
Durante seus dois anos como consultora, Melina relata ter atendido cerca de 50 pessoas. Por ser uma atividade que demanda dedicação, a profissional prioriza atender, no máximo, três clientes ao mesmo tempo. “Não é só o tempo que eu passo com o cliente. Eu tenho o tempo em que preciso pensar e montar o projeto de imagem para esse cliente. Então eu chego em casa e eu estruturo tudo que ele me contou ali e eu vou criando uma pessoa na minha cabeça e vou já selecionando algumas peças, eu vou olhando muito online para ver modelagem, para eu testar coisas no corpo daquele cliente. (…) Então tem todo esse off também que demanda muito. Por isso eu não gosto de acabar pegando muito cliente, eu gosto de ficar na média de dois, no máximo três clientes por mês porque daí eu sei que eu consigo me entregar”.
Quanto ao sexo que mais procura a consultoria, Melina relata ter se surpreendido com a quantidade de homens interessados pela área. Até o momento, atendeu mais mulheres, entretanto, em sua percepção, os homens, quando a procuram, têm mais certeza de que realmente querem realizar a consultoria. “O homem é um pouco mais decidido. Se ele procura, ele vai fazer. A mulher não. A mulher já procura para sondar porque ela tem o desejo mas às vezes não é o momento, fica com medo. O homem é mais decidido nesse lugar então quando ele procura eu já sei que vai fechar”.
Outra questão destacada por Melina é a condição financeira de quem gostaria de realizar uma consultoria. Engana-se quem acredita que essa é uma atividade apenas para quem tem direito suficiente para comprar um guarda-roupa completo do zero. A consultora também aponta que, para aqueles que ficam em dúvida sobre o investimento, é interessante pensar nas portas que podem ser abertas ao adotar um visual mais profissional. Caso ainda reste receio, o importante, de acordo com Melina, é que o cliente esteja inteiramente disposto a entrar no processo. “Existe um momento para você passar por uma consultoria de imagem. Não é que não seja para qualquer um. Todo mundo pode fazer e, ouso dizer, que deveria, mais por questão de autoconhecimento porque você acaba fazendo uma viagem, mergulha no seu interior. É muito interessante as coisas que você descobre até onde você pode chegar, mas existem pessoas que ainda não estão prontas para passar por esse processo”.
Moda consciente
Melina também busca, tanto durante suas consultorias quanto em suas redes sociais, alertar sobre o consumo consciente no mundo da moda, incentivando a compra em brechós e em lojas chamadas de slow fashion, além da criação de guarda-roupas cápsula. Sua preocupação é tanta que foi convidada a palestrar sobre o tema para um grupo da Força Aérea Brasileira. “As pessoas têm muito preconceito com roupa de brechó porque acham que é roupa velha, e não é. Lógico, tem que garimpar, mas você encontra peças incríveis, vintage, super da tua cara. Às vezes você mesmo pode customizar se você é uma pessoa mais criativa. Vai, compra uma peça, customizar uma peça que está com furinhos aqui, coloca lantejoula, pedrinha, pérola. Tudo você consegue reinventar e dar uma vida maior para essa moda que possivelmente vai virar lixo. Lá no Deserto do Atacama a gente está com uma média de 420 estádios de futebol de lixo têxtil, que é químico. A maioria das peças são feitas de poliéster, que é derivado do petróleo. Isso é químico e impacta a nós também, então o impacto é em todas as esferas”.
Quanto ao guarda-roupa cápsula citado pela consultora, Melina explica que essa é uma opção para quem busca frear seu consumismo. O objetivo desta técnica é possuir poucas peças, que combinem entre si. “A gente entende que é você ter 30 peças, no máximo. Isso é considerado um guarda-roupa cápsula. É você ter cores, combinações, composições que uma peça conversa com a outra. (…) Fica fácil também para aquela pessoa que não tem muito tempo, então é legal porque para você substituir aí é muito fácil”.
Melina relata que a consultoria mudou sua própria relação com o consumo, tendo a feito refletir sobre suas escolhas. “Eu não tinha noção do impacto que o mercado têxtil tem no meio ambiente. Eu não tinha essa noção e foi a consultoria que foi me trazendo essa consciência. (…) Eu ainda quero diminuir mais, eu ainda tenho guarda-roupa bem grande, mas eu passei a adquirir muito menos peças desde que eu fiz a consultoria e mais qualidade. Eu era a pessoa que achava caro, então eu comprava mais fast fashion e menos slow fashion. Hoje não. Hoje minha mentalidade mudou completamente. Hoje eu invisto no sapato mais caro que eu sei que vai me acompanhar por mais tempo do que aquele que no próximo verão já vai estar todo descascando. Comprar só para estar na moda já não faz mais sentido para mim”.
O que é slow e fast fashion?
Slow e fast fashion são termos usados para determinar a forma de confecção de roupas e calçados. O fast fashion prioriza a confecção em massa e em curto período de tempo para atender as tendências e chegar ao maior número possível de consumidores. Geralmente essas peças são atrativas por serem mais baratas, e podem ser encontradas nas lojas de departamento como grandes marcas conhecidas no país. O impacto dessa forma de confecção, contudo, é alto, devido a baixa preocupação com o meio ambiente e com a mão de obra.
Já o slow fashion, ao contrário, busca confeccionar peças de moda de maneira mais lenta, visando a qualidade. Muitas vezes podem ser consideradas peças de exclusividade. Nele, as peças costumam custar mais caro mas, em contrapartida, são confeccionadas para durarem mais do que aquelas produzidas no sistema fast fashion.
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