O tribunal do júri do Fórum da Comarca de Canoinhas encerrou na noite desta quinta-feira, 9, o quarto dia do julgamento de Nelvir Gadens, Márcio Mariano e Ademir Alves, acusados de serem mandante e executores do assassinato de Cláudio Herbst em 2021.
Caso o julgamento não termine nesta sexta-feira, 10, ele pode ser considerado um dos mais longos júris da história de Santa Catarina.
Até então, o maior júri popular em duração já realizado no estado ocorreu em março de 2023, em Lages, quando o Tribunal do Júri da comarca decidiu pela condenação de 21 homens acusados pelos crimes de homicídio triplamente qualificado e organização criminosa, que durou mais de 60 horas.
Ele foi considerado um dos maiores já realizados pela Justiça catarinense, não só por ter sido um dos mais longos, mas também pelo número de réus e pela sua complexidade.
Em entrevista a este colunista, Adriano Bretas, um dos dez advogados de defesa, avaliou os quatro dias do tribunal do júri.
“Hoje acabaram as provas que precisavam ser produzidas e o saldo de todo esse trabalho, é que essa investigação andou muito mal, uma investigação capenga, uma investigação feita à toque de caixa, de afogadilho. Elegeu-se um culpado num primeiro momento e se saiu à cata de elementos para tentar confirmar aquela intenção inicial”, afirmou o advogado.
Bretas cita que foi um crime de ímpeto e que não houve qualquer tipo de execução.
“O Ademir não concorreu para a prática daquela infração penal. O Ademir foi um coadjuvante que foi tragado, enredado naquela situação e nós vamos demonstrar que efetivamente essa imputação é de todo improcedente. Esse é o tribunal do povo. O julgamento acontece aqui”.
Sobre o quarto dia de julgamento, outro advogado de defesa, Jeffrey Chiquini, avaliou como um dia muito produtivo.
“Até esse julgamento a sociedade não conhecia a verdade. Esse é um caso que vai servir como modo de mostrar a todos que a verdade deve ser buscada com responsabilidade, com compromisso, que tudo deve ser avaliado, que todas as versões devem ser investigadas. O que houve aqui desde o início foi que infelizmente, alguém selecionou apenas uma linha acusatória, e que criaram um crime de mando. Forma imprudente de agir porque nós temos aqui nesse processo um inocente preso, um pai preso acusado de mando de um crime que ele não praticou. Existem razões para que esse fato tivesse ocorrido, é um fato, que deve ser julgado, mas a motivação é completamente outra”, destacou o advogado.
Para Schick, ficou claro que o motivo do crime não é paga e promessa de recompensa. “Existe um motivo para esse homicídio que nunca foi o que foi posto pela investigação, nunca foi apresentado pela acusação, sequer foi investigado. E hoje, a sociedade de fato, conheceu o verdadeiro motivo desse homicídio. Tudo iniciou com uma grande trama, onde a vítima estava envolvida em uma grande trama. Não investigaram a vítima, não investigaram sua amante, sua namorada, companheira. Todos agora estão conhecendo a verdade e amanhã esse caso será solucionado com a verdade”, destacou.
Para Cláudio Dalledone Junior, advogado que está à frente da banca de defesa do acusado de ser o mandante do crime, Nelvir Gadens, foi um trabalho extenuante, entretanto, com uma carga enorme de satisfação jurídica. “Essas 25 horas de depoimento ensinaram a todos que delegado de polícia não é juiz, de que as informações coletadas por um delegado de polícia e as impressões e as suspeitas, devem ser validadas pelos órgãos científicos para daí se transformar em uma hipótese viável para ser julgada. E essa hipótese viável para ser julgada foi posta aqui”, disse Dalledone.
A Promotoria, que trabalha na acusação, não vai se pronunciar até o fim do julgamento.
ENTENDA O CASO
Nelvir Gadens, o suposto mandante, e os dois acusados de serem os executores do crime, teriam tramado e executado a morte de Cláudio Herbst. Ele foi morto dentro de casa a poucos metros do 3º Batalhão de Polícia Militar.
Herbst foi alvejado com 11 tiros por volta das 19h30 de 15 de abril de 2021. Devido à gravidade dos ferimentos, ele faleceu no dia seguinte. A Polícia Civil afirmou se tratar de um crime passional. Cláudio seria namorado da ex-companheira de Nelvir. Por ciúmes, ele teria encomendado o crime.
De acordo com o apurado pelas autoridades policiais, um veículo com dois dos réus teria parado próximo à residência da vítima. Eles teriam sido contratados por Nelvir para cometer o ato criminoso.
Conforme a denúncia, um deles permaneceu no veículo para dar agilidade à fuga e garantir a execução do crime, enquanto o segundo desceu e foi em direção à vítima, disparando diversas vezes contra o rapaz.
Segundo destaca a ação penal pública, “o réu, mandante do crime, agiu por ciúmes, pois a ação criminosa foi praticada em razão do sentimento de posse que detinha em relação a sua ex-companheira, atual namorada da vítima”.
Consta, ainda, nos autos, que “os dois acusados teriam realizado o feito sob as ordens de um terceiro. Tudo estava previamente acertado, desde o momento até o modo de execução do plano criminoso. Um deles saiu do veículo e disparou pelo menos 11 vezes em direção da vítima, sem que ela conseguisse esboçar qualquer reação defensiva, enquanto o outro permaneceu a sua espera, para possibilitar a fuga e assegurar a consumação delitiva”.
A 4ª Promotoria de Justiça da Comarca de Canoinhas denunciou os três homens por homicídio triplamente qualificado – motivo fútil, mediante paga ou promessa de recompensa e recurso que dificultou a defesa da vítima.