Quando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva convidou Roberto Requião para ingressar no PT, certamente acreditava que o apoio do ex-governador somaria aos votos que o Partido dos Trabalhadores historicamente faz no Paraná. Apesar do aceite ter ocorrido apenas em março de 2022, o convite foi feito há pouco mais de um ano, em agosto de 2021, num encontro em São Paulo, do qual participou também a presidente nacional do PT, deputada Gleisi Hoffmann.
Entre o convite e a aceitação ainda deu tempo para Requião “manchar” um pouco mais a imagem de Lula no Paraná, por exemplo, numa declaração ao site “Congresso em Foco”, quando disse: “Se lulismo vira credo, desse credo não sou crente”. Isso depois de Lula já ter publicamente dado apoio à candidatura de Requião ao governo do Paraná na sua conta no Twitter.
Mas esse comportamento hostil de Requião com Lula, mostra o por que do ex-governador aparecer com menos intenções de voto nas pesquisas no Paraná do que o próprio ex-presidente petista. A verdade é que os lulistas não gostam de Requião, porque este nunca morreu de amores por Lula. Por conta disso, preferem declarar apoio, mesmo que velado, a Ratinho Junior, do que tentar salvar Requião do maior fracasso político de sua polêmica vida pública.
Jogo duplo e mamonas
Um dos episódios mais enfáticos deste comportamento de Roberto Requião aconteceu na campanha de 2006, algo que os petistas do Paraná certamente jamais esquecerão. Naquele pleito Lula buscava a reeleição, mas Requião não quis estar ao seu lado num comício às vésperas do segundo turno, na Boca Maldita, em Curitiba.
Acabou sobrando para o seu vice, Orlando Pessuti (MDB), hoje candidato ao Senado. Pessutão representou a chapa do MDB no comício de Lula, que inocentemente ainda pediu voto ao ingrato.
O motivo da ingratidão ninguém sabe ao certo. Há os que afirmam que Requião fez jogo duplo naquela eleição, que tinha Geraldo Alckmin, então candidato do PSDB, na disputa do segundo turno. Também há os mais humorados que acreditam que foi uma vingança pela gafe histórica de Requião, quando em fevereiro naquele ano, ao lado de Lula, comia mamona, desconhecendo o perigo das sementes venenosas, mesmo tendo sido deputado estadual, governador e senador por várias vezes em um estado agrícola como o Paraná.
Quem bate esquece
Há um ditado que diz que aquele que bate esquece, mas quem toma a surra não esquece jamais. Por isso os lulistas do Paraná certamente querem dar o golpe de misericórdia em Requião na eleição de 2022.
Lula enfrentou sua maior crise institucional e política no “mensalão” e na Operação Lava Jato, que o inclusive levou à cadeia e deixou inelegível em 2018. Requião, assim como outros algozes, não lhe pouparam críticas, para não dizer agressões.
Requião acusou o ex-presidente de barganhar cargos políticos em troca da sua sobrevivência. Depois, já em 2016, numa entrevista ao jornalista Josias de Souza, do UOL, condenou Lula pelas negociatas envolvendo o sítio de Atibaia, e chamou de “vigarice” as palestras que o ex-presidente fazia ao preço de R$ 200 mil cada.
Mas a relação ruim de Requião com seu atual partido vai bem além de Lula. Algumas lideranças petistas acreditam que o PT nunca assumiu um protagonismo na política estadual por culpa do ex-governador. Também sempre houve uma relação estremecida entre Requião e a atual presidente do PT, Gleisi Hoffmann, a quem chamava de “Barbie”, em tom de deboche e provocação. Inclusive, o ex-governador foi processado pelo marido de Gleisi, ex-ministro Paulo Bernardo.
Agora, neste sábado, certamente Roberto Requião estará abraçado a Lula no palanque a ser montado na Boca Maldita. E, ao invés de Requião melhorar a situação de Lula num estado majoritariamente bolsonarista, talvez seja o candidato a presidente que precise acudir o seu ingrato representante do estado. Será que vai?