Andréa Leonora-CNR-SC/ADI-SC/Central de Diários
A convenção do PMDB catarinense, realizada no sábado, 29, reconduziu o vice-governador Eduardo Pinho Moreira à presidência. Dos 553 votos, 30 menos que o total esperado, 318 foram para a chapa liderada por Moreira, ficando os 231 restantes para a chapa do deputado federal Mauro Mariani. Menos de 20 minutos após ter sido declarado o resultado, Moreira recebeu um telefonema do governador Raimundo Colombo, que estava em viagem de volta do Japão, cumprimentando-o pela vitória.
O novo diretório, agora com participação expressiva de apoiadores de Mariani, reúne-se na quinta-feira, 4. Só então será definida a composição da nova Executiva do PMDB-SC e homologada a presidência de Eduardo Moreira e o Conselho Fiscal.
O clima no Auditório Antonieta de Barros, da Assembleia Legislativa, onde ocorreu a convenção, variou ao longo do dia. Pela manhã, o ambiente era dominado pelas camisetas brancas do grupo de apoio a Mariani. À tarde, foram as camisetas vermelhas dos eleitores do vice-governador que coloriram o auditório. Minutos antes do início da contagem dos votos, uma batalha de palavras de ordem tomou conta do lugar. Durante todo o período de debates e votação, perto de 2,5 mil pessoas passaram pelo auditório. Entre elas, uma visita inusitada. O senador Paulo Bauer, que nos próximos dias deve assumir a presidência do PSDB, foi cumprimentar os dois candidatos. E, certamente, medir a temperatura para futuros apoios numa possível disputa pelo governo do Estado.
Ao final do encontro, Eduardo Moreira agradeceu a presença de todos, afirmou que a convenção não tinha vencidos ou vencedores, reconheceu a “participação ética e correta” de seu adversário e decretou: “Agora temos que lutar pela unidade”. Tarefa que, considerando o clima ao final da convenção, não vai ser fácil de cumprir.
Mariani não se preocupou em esconder a irritação com o resultado e seus assessores falavam em traição de delegados que tinham garantido o voto na chapa liderada pelo deputado. Entre as principais mágoas, o secretário de Infraestrutura, Valdir Cobalchini, o prefeito de Balneário Camboriú, Edson Piriquito, o deputado estadual Antonio Aguiar e o secretário de Desenvolvimento Regional da Grande Florianópolis, Renato Hinnig. Quando saiu o resultado, o ex-secretário de Estado Milton Martini foi cumprimentar Mariani. Teve o aperto de mãos rejeitado e ouviu um irônico “Valeu, Martini. Parabéns pra vocês”.
Nos dias que antecederam a convenção, várias lideranças falaram que o deputado estaria se preparando para sair do partido. Entretanto, a assessoria de Mariani negou essa possibilidade. Ainda assim, haverá mudança de rumo. Como ele está para ser pai de trigêmeas no próximo dia 8, há a possibilidade de não se candidatar a federal. Em 2014, deve disputar uma vaga à Assembleia, para ficar no estado.
Íntegra das entrevistas após o resultado:
Eduardo Moreira – “Nosso discurso foi mais responsável com as preocupações que temos que ter agora. Ou seja, formas de melhorar a saúde, a educação, a segurança pública. Em 2014, o PMDB saberá escolher, soberanamente, o seu caminho, como sempre soube. Em política, feio é perder. E nós ganhamos. Era um adversário forte (Mariani), deputado federal mais votado da história de Santa Catarina, com discurso mais fácil, de candidatura própria (em 2014). Tivemos quase 90 votos de diferença e isso é expressivo. A política é muito dinâmica. Mas, nesse momento, o PMDB tem que ter a responsabilidade de dar a estabilidade política para o governo do Estado avançar em suas ações. O PMDB é governo, temos a maior bancada da Assembleia. Agora, passado o calor da disputa, temos que superar as dificuldades. A unidade é o sentimento que deve prevalecer.”
Mauro Mariani – “Todo mundo acompanhou. Nós lutamos contra o governo do Estado e não apenas contra uma candidatura do PMDB. Foi uma brutalidade no uso da máquina, com muita pressão sobre prefeitos e detentores de cargos para votar na chapa da situação. Nessas condições, fazer 42% dos votos foi uma vitória. E o PMDB mandou um recado claro. A composição anterior do Diretório Estadual era dos amigos do poder, amigos do atual presidente (Moreira). Agora mudou. Foi uma lição. Infelizmente, o partido começava a ter uma nova esperança e voltou a ter um caminho único pela frente, que é continuar a reboque. E não adianta dizer que vão discutir candidatura própria no ano que vem. Isso é balela.”
Senador Luiz Henrique da Silveira – “Foi um resultado democrático. Expressa a dinâmica do nosso partido, que vai estar unido nas eleições do ano que vem. Fiz todas as tentativas no sentido de uma composição, indicando Mariani para ser o vice-governador nas próximas eleições e deixando o Eduardo dedicado ao partido. Mas política é dinâmica e o tempo acaba construindo os resultados.”
Senador Casildo Maldaner – “O partido é democrático e vivo. O resultado trouxe um chamamento no sentido de que temos que cuidar do governo do qual participamos, mas sem nos descuidarmos do partido. Temos que estar preparados para possíveis embates, como se esse projeto (participação no governo do Estado) continua no ano que vem ou se vamos ter candidatura própria. Não podemos negar o nosso passado, nossa história. O resultado (nova composição do Diretório Estadual) é uma advertência para que cuidemos de cada passo dado. E esse resultado, sem dúvida, tem um link entre o que vemos aqui e os clamores das ruas.”