O vice-presidente Hamilton Mourão (Republicanos-RS) criticou o presidente Jair Bolsonaro (PL) e a reação dos eleitores que não aceitam a derrota nas urnas e participam das manifestações por golpe de Estado em todo o país.
Em longa entrevista publicada na edição desta quarta-feira (2) do O Globo, o general, que foi eleito senador pelo rio Grande do Sul em 1º de outubro, afirmou que “não adianta mais chorar”.
“Nós concordamos em participar de um jogo em que o outro jogador (Lula) não deveria estar jogando. Mas se a gente concordou, não há mais do que reclamar. A partir daí, não adianta mais chorar, nós perdemos o jogo”, afirmou.
Na sequência, ele mandou Bolsonaro e os apoiadores que realizam protestos nas rodovias contra o resultado das urnas “baixarem a bola”. Ele afirmou ainda que “não considero que houve fraude na eleição”. Contou ter orientado Bolsonaro a se pronunciar durante as 45 horas em que manteve silêncio após o anúncio da derrota nas urnas.
Indagado sobre a “dificuldade de comunicação” com o presidente, Mourão disse que “nunca briguei com ele publicamente”. “Ele reclamava de mim, pô. É aquela história, eu tenho noção, né?”, afirmou o general. Em seguida, pontuou as diferenças que vê entre ele e o presidente.
“Ele é um sujeito mais incisivo, mais verborrágico, e eu não sou. Minha forma de fazer as coisas é outra. Ele sempre foi deputado. Na Câmara, se você não se destaca pela peleia, é engolido. E o papel do Bolsonaro era meter o dedo nos outros. E ele continua fazendo esse papel. E eu nunca fui disso, eu passei dessa fase na minha vida”, disse Mourão.
O general disse ter se arrependido de algumas declarações, mas não citou quais. “Talvez de determinadas opiniões eu teria guardado mais para mim”, comentou.
Mourão ainda confirmou a conversa com o vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin (PSB) – “é um cara educado, eu também sou” – dizendo que é “de boa educação eu me dirigir a ele e dizer que estamos em condição de recebê-lo, que a casa em que ele vai morar está em condições de ser vistoriada”.
Por fim, disse que quer chegar como “aluno” no Senado, antes de tentar presidir a casa legislativa. E foi incisivo ao dizer se vai até Lula, caso seja convidado: “Lógico”.