Renato Freitas, um rapaz comum, batalhador e político “por acidente”

Das periferias para a Assembleia Legislativa, com passagem pela Câmara Municipal de Curitiba, Renato Freitas considera a eleição como deputado estadual uma afirmação da democracia.

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Atualizado há 2 anos

Basta um breve olhar pelas redes sociais do deputado eleito Renato Freitas (PT) para conhecer e reconhecer os traços e as lutas que travou ao longo dos 37 anos de idade. Freitas se intitula “mais um rapaz comum, político por acidente, lutador por vocação”. Vereador na capital, enfrentou um processo de cassação do mandato por um ato contra o racismo em uma igreja católica de Curitiba, mas, durante a campanha deste ano, o Supremo Tribunal Federal (STF) restabeleceu o mandato de Freitas e anulou o ato que decretou a cassação na Câmara de Vereadores.

Freitas recebeu 57.880 votos. Para ele, “uma resposta de afirmação da democracia. Uma resposta do povo paranaense e do valor que tem a representação de pessoas da periferia e de pessoas negras, já que a tentativa de cassação do meu mandato na Câmara de Vereadores de Curitiba não tinha razão jurídica, considerando que o próprio STF reconheceu, reformou e anulou a decisão”, afirma.

Nascido em Sorocaba, interior de São Paulo, Freitas é pai de Aurora, de três anos, que considera a coroação do processo de renascimento. Se mudou para o Paraná ainda criança, onde viveu em Piraquara, Almirante Tamandaré, Pinhais e Colombo, todos municípios da Região Metropolitana de Curitiba (RMC). Perdeu o pai quando tinha 15 anos e morava com a mãe, imigrante nordestina, uma irmã e o irmão, que acabou assassinado enquanto trabalhava. “A morte imperou sobre mim. Álcool, violência, desalento e tristeza sem fim”, contou em um vídeo onde narra a trajetória de menino pobre da periferia, que trabalhava como empacotador de supermercado no contra turno do ensino médio e que, apesar de um contexto desfavorável, virou a mesa e mais tarde, fez faculdade de Ciências Sociais e graduação e mestrado em Direito pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Estudou criminologia e a política do encarceramento, o que o fez entender um pouco do que faz das cadeias brasileiras lugares cheios de pessoas negras e pobres. Tema que ele, aliás, pretende defender na Assembleia Legislativa: a segurança pública com foco no ser humano.

Renato Freitas foi advogado popular, defensor público, e presidente da Associação dos Servidores da instituição. Além disso, formou o chamado Núcleo Periférico para lutar por causas como a regularização, o direito à moradia e ao saneamento básico. Se filiou ao PT e logo se tornou candidato. “Dessa forma, tive voz política, contra tudo e contra todos”, destaca.

Na Assembleia Legislativa, pretende conduzir o mandato também a partir de outros dois eixos principais, além da segurança: moradia e educação. “Nós acreditamos que precisamos de uma reforma agrária e urbana não só no nosso estado, mas no país. Como integrante do Movimento Negro e de movimentos das periferias, sabemos que a política de segurança pública tem um caráter letal, violento e genocida e que, ao invés de defender a vida e a liberdade dos indivíduos, gera mortes, pouca investigação e normalmente retira a liberdade de pessoas das quais não deveria. Por fim, na educação vamos lutar contra o sucateamento da educação pública, contra o processo de privatização do ensino e por mais concursos públicos para professores e professoras”, conclui.

Renato Freitas chega à Assembleia Legislativa do Paraná após ser eleito deputado estadual com 57.880 votos | Foto: Orlando Kissner/Alep