No dia 21 de setembro, é celebrado o Dia Nacional de Conscientização da Doença de Alzheimer, uma data que, mais do que nunca, precisa ser marcada por reflexão e apoio às famílias que enfrentam, diariamente, a dura realidade dessa doença.
Instituída por uma lei de 2008, essa data busca divulgar informações cruciais sobre a condição, seus sintomas, tratamentos disponíveis e, principalmente, como os familiares podem agir para proporcionar uma qualidade de vida digna aos seus entes queridos.
Para responder perguntas e tirar dúvidas a cerca da doença que não tem cura, mas que, com o tratamento adequando pode amenizar os sintomas, conversamos com o médico neurologista Emerson Canello, que atua no Vale do Iguaçu, para entender melhor os desafios impostos pelo Alzheimer e como podemos nos preparar para enfrentar essa doença que, infelizmente, atinge cada vez mais pessoas, especialmente em uma população onde a expectativa de vida tem aumentando cada vez mais.
Estima-se que no Paraná cerca de 110 mil pessoas convivam com a demência. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a demência é uma das principais causas de incapacidade e dependência entre os idosos e ocupa a sétima posição entre as causas de morte nesta faixa etária. O Alzheimer é a forma mais comum, responsável por 60% a 70% dos casos.
O Alzheimer: uma doença implacável
O Alzheimer é uma doença neurodegenerativa que afeta, principalmente, a memória e o comportamento, progredindo de forma irreversível ao longo do tempo. “No início, os sinais podem parecer pequenos deslizes, como esquecer onde colocou um objeto ou confundir nomes. Porém, à medida que a doença avança, os sintomas se tornam mais graves, chegando ao ponto de o paciente não reconhecer os próprios familiares e se perder em trajetos familiares”, explica o neurologista.
Entre os sintomas iniciais estão a dificuldade em realizar tarefas simples, perda de memória recente e confusão mental. Com o tempo, a doença pode causar falhas na linguagem, desorientação espacial e até alucinações. “É uma doença devastadora, que não só impacta o paciente, mas também todos ao seu redor”, enfatiza.
Além dos dados científicos e médicos, a jornada do Alzheimer é também uma história de afeto, dedicação e sacrifícios. O relato de uma filha que cuida da mãe com Alzheimer ilustra a dimensão emocional dessa experiência.
Erli Liber de Almeida moradora de União da Vitória dedica seu tempo a mãe Doracilda Liber de Almeida que foi diagnosticaa Alzheimer em 2015. Além da mãe, Erli cuida do filho autista. “Eu vivo dois mundos bem diferentes. Do autismo do filho e o Alzheimer da mãe”, conta.
Para ela a aceitação do diagnostico é o primeiro passo. A filha buscou exames mais detalhados para entender o que estava acontecendo principalmente os esquecimentos repetitivos.
“Primeiro que é difícil aceitarmos que quem nos cuidou com zelo e amor muitas vezes não lembra quem somos. Eu hoje como filha, acabo sendo a mãe dela”, desabafa Erli.
A filha dedicada fala sobre as rotinas com a mãe e os passeios. “Ela adora sair, adora lanchar fora”.
A aceitação por parte de Dona Doracilda também não foi fácil, até a mudança definitiva para a casa da filha foram idas e vindas desde 2015. “Foi muito difícil ela aceitar de morar comigo, pois tinha uma vida independente, ela morava sozinha”.
“Eu trouxe ela por medo de que se machucasse ou tomasse em dobro os remédios“. Segundo Erli o que a mãe mais esquece é de comer e tomar banho.
A filha desabafa que doi ver a mãe se tornar uma criança. “É bem dolorido ver a mãe se tornar uma criança e saber que vai depender de mim a cada dia mais. Sou ciente de que ela perderá a coordenação motora e vai sempre precisar de alguém.”
Embora não exista uma cura para o Alzheimer, o diagnóstico precoce é fundamental para retardar os sintomas e melhorar a qualidade de vida. “Infelizmente, ainda não temos um exame que comprove 100% a presença da doença, mas exames de sangue e de imagem, como a ressonância, ajudam a descartar outras patologias. O acompanhamento regular e a observação dos sintomas ao longo do tempo são essenciais para o diagnóstico”, orienta o médico.
O médico também alerta que é crucial diferenciar o envelhecimento normal da doença de Alzheimer. “Os esquecimentos comuns do dia a dia podem ocorrer com qualquer pessoa, mas no Alzheimer, eles tendem a evoluir e prejudicar a funcionalidade do paciente”, afirma o médico.
Apesar de não existir uma forma garantida de prevenir o Alzheimer, o neurologista destaca que alguns fatores de risco podem ser controlados. “Sedentarismo, pressão alta, diabetes, tabagismo e consumo excessivo de álcool são fatores que aumentam a chance de desenvolver a doença. Por outro lado, hábitos saudáveis, como a prática de exercícios físicos, uma alimentação balanceada e boas noites de sono, podem ajudar a reduzir os riscos”.
Ele também ressalta que manter uma vida social ativa e o estímulo intelectual são grandes aliados na prevenção: “O cérebro precisa ser constantemente desafiado. Estudar, ler, aprender coisas novas e socializar são atividades que ajudam a manter as funções cognitivas em dia.”
O impacto emocional nas famílias
Cuidar de uma pessoa com Alzheimer é um desafio imenso. Emerson lembra que a doença não afeta apenas o paciente, mas também os familiares, que muitas vezes sofrem emocionalmente ao verem seus entes queridos se transformarem. “O apoio psicológico para os cuidadores é fundamental. A doença progride com o tempo, e é importante que as famílias se unam, dividam responsabilidades e busquem suporte emocional”, aconselha.
Ele também destaca a necessidade de compreensão: “O paciente não age de forma intencional ao esquecer ou agir de maneira confusa. Compreender que essas atitudes são consequências da doença ajuda a lidar melhor com as situações do dia a dia.”
Uma luz de esperança para o futuro
Apesar dos desafios, há avanços promissores no campo da pesquisa. “Nos últimos anos, novos medicamentos que ajudam a retardar o início da doença estão sendo testados, principalmente nos Estados Unidos. Além disso, os estudos para identificar o Alzheimer antes de seus sintomas mais graves estão em fase avançada, o que nos dá esperança de que, em breve, possamos diagnosticar e tratar a doença de maneira mais eficaz”, revela o doutor.
Com o envelhecimento da população, o Alzheimer tende a se tornar um desafio de saúde pública cada vez mais urgente. “Precisamos de políticas públicas que incentivem os idosos a se cuidarem, a se manterem ativos e incluídos na sociedade. Grupos de terceira idade, atividades físicas e estímulos sociais são fundamentais para garantir uma melhor qualidade de vida a essa população”, conclui o neurologista.
Neste Dia Nacional de Conscientização da Doença de Alzheimer, mais do que lembrar das dificuldades impostas por essa condição, é essencial ressaltar a importância do cuidado, do carinho e da paciência com aqueles que enfrentam essa dura batalha. Afinal, o amor e o apoio podem não curar a doença, mas certamente fazem a diferença na vida dos pacientes e de suas famílias.
Veja os 10 sinais de alerta mais comuns da demência:
– Perda de memória que interfere na vida cotidiana, como esquecer informações aprendidas recentemente, datas/eventos, fazer perguntas repetidas
– Dificuldade de planejamento ou resolução de problemas
– Problemas com a linguagem verbal ou escrita (dificuldade em nomear objetos)
– Desorientação em relação ao tempo e lugar
– Capacidade de julgamento ruim ou reduzida, como por exemplo, menos atenção à higiene pessoal e limpeza
– Dificuldade para acompanhar os acontecimentos
– Perda de objetos (colocá-los em locais errados e não conseguir reencontrá-los)
– Mudança de humor e comportamento, podendo apresentar confusão, desconfiança, ansiedade, irritabilidade
– Dificuldade em entender imagens visuais e relações espaciais, comprometimento do equilíbrio e no julgamento de distâncias
– Afastamento do trabalho e das atividades sociais