Suicídio no divã

Conversa entre pais e filhos pode ajudar a entender e prevenir o problema. Casos são mais comuns entre meninos jovens

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Atualizado há 11 anos

Por Mariana Honesko

Psicóloga, Daniele Jasniewski, recomenda a discussão em casa sobre o problema: bate-papo informal e observação dos pais previnem novos casos
Psicóloga, Daniele Jasniewski, recomenda a discussão em casa sobre o problema: bate-papo informal e observação dos pais previnem novos casos

De repente, a notícia chega como uma bomba, acompanhada por uma centena de questionamentos. Quem sobrevive, acaba culpando-se. Pela matemática, não há como entender os motivos que levam à forma mais trágica de encerrar a própria vida. O suicídio é real, mais comum do que se pensa e não escolhe suas vítimas. “O suicídio é um grito de socorro”, define a psicóloga, Daniele Jasniewski, especialista em situações de luto.

Os cálculos são mais cruéis quando revelam a frequência dos casos. Apenas em União da Vitória, segundo a Polícia Militar, oito suicídios foram registrados e confirmados em 2013. Parte das ocorrências tornou-se pública e ganhou destaque, ainda que sobrecarregada de comoção, na imprensa. O Portal Vvale, inclusive, registrou pelo menos seis suicídios e outras tantas tentativas durante o ano passado.

Estudos mais profundos definem um perfil sobre quem tira sua própria vida. A maioria dos que cometem suicídios são homens e tem entre 15 e 35 anos. Há casos mais precoces e é justamente estes os que tiram o sossego dos pais e inquietam os baixinhos. Na região, a história de um menino de dez anos, que se enforcou em casa, causa preocupação e traz à tona todas as dúvidas imagináveis. Na busca de um entendimento para o que teria levado o menino a construir sua própria forca, só há lamentos.

Para Daniele, contudo, pessoas com tendências ao suicídio deixam rastros. Para percebê-los, bastaria, segundo a profissional, de uma pouco mais de sensibilidade em prestar atenção. “Aquela história de que quem avisa que vai se matar não se mata, é mentira. É bom ficar atento também quando alguém diz muitas vezes que gostaria de sumir, de desaparecer”, aponta.

Assim, com casos que batem à porta de casa, uma boa conversa pode ajudar. E muito. A metodologia para tratar o problema é comparada com o câncer: antes, falar sobre isso era proibido; hoje, todos falam. Para dar certo, porém, a estrutura familiar não pode ser fechada ou de difícil adaptação. O assunto assusta, mas precisa ser discutido. “Não tem como discutir o suicídio com crianças, por exemplo. Elas não têm habilidade para aprender o que é. O importante é lidar com perdas e ensinar como manejá-las”, ensina a psicóloga. Quedas no rendimento escolar, tendências ao isolamento ou qualquer outra mudança no comportamento sugerem atenção. É aí que nasce a oportunidade para um diálogo mais informal. Um simples bate-papo pode trazer bons resultados.

Perder é preciso

Em qualquer jogo, um ganha e o outro perde. A derrota, ao contrário do que pode se pensar, também é importante. Na verdade, aos olhos da psicologia, é justamente a falta de habilidade em trabalhar com o que se perde um dos principais motivos que levam ao suicídio. Na vida adulta, ou na adolescência, o sentimento de rejeição ou derrota, até então desconhecido por conta da super-proteção dos pais, soa literalmente como o fim do mundo. “A tentativa de suicídio é na verdade uma tentativa de acabar com o sofrimento”, explica Daniele.

Em alguns casos, as perdas são invisíveis, mas estão ali. As vezes, elas chegam quietas, disfarçadas. “A hora de deixar o peito da mãe, de sair do berço para a cama, de ir para a escola. São perdas que os bebês já precisam aprender desde que são bem pequenos”, pontua. A medida em que crescem, as crianças acabam ficando um pouco mais “embaixo das asas” dos pais. É o caso, por exemplo, dos pais que sempre “perdem” nas brincadeiras e deixam os baixinhos vencerem. Nada é feito com má intenção. Antes, uma tentativa de poupá-los do sofrimento. “O problema é que na vida não vamos ter tudo o que queremos e nem sempre vamos ganhar”, observa a psicóloga.

Confirma a avaliação de Daniele a sequência do estudo já feito sobre o suicídio. Nos casos dos meninos, as decepções amorosas frustradas lideram os motivos pela retirada da própria vida. Nos divãs, a psicologia já explica: o relacionamento materno – e geralmente a proteção em excesso – interfere nas decisões fora dos portões de casa.

O suicídio pode ser prevenido, mas é preciso esforço e muita observação. O que vale, garante os especialistas, é fazer com que o ser humano, desde muito cedo, aprende com os próprios erros. Ao cair, é preciso levantar. O próximo tombo não será o mesmo. “A frustração nos faz crescer e melhorar”, sorri Daniele.

Motivos que levam ao suicídio

1º lugar

Causas psicológicas, como depressão e transtornos.

2º lugar

Abuso de drogas, lícitas e ilícitas.

3º lugar

Problemas sócio-econômicos, relacionamentos familiares.

Em adultos – após os 35 anos

Vida financeira desequilibrada.

Após os 65 anos

Depressão, esquizofrenia e problemas de saúde.

 

  • 8 casos foram registrados em União da Vitória no ano passado
  • Cruz Machado lidera o ranking de suicídios na região
  • Homens são a maioria nos casos
  • 24 pessoas tiram a própria vida no Brasil todos os dias, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS)