SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A chegada do 5G, a quinta geração de internet móvel, deve movimentar o mercado de trabalho no Brasil ao gerar empregos e exigir novas habilidades profissionais.
Os setores de tecnologia e telecomunicações serão os mais afetados.
O leilão do 5G, feito em novembro pela Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações), teve as operadoras TIM, Vivo e Claro como vencedoras das principais faixas. A partir de julho, as empresas deverão disponibilizar essa rede nas capitais de todos os estados do país.
Especialistas em segurança da informação, dados, big data, inteligência artificial e internet das coisas serão alguns dos profissionais mais procurados, mas não só. Novas carreiras devem surgir para atender as demandas geradas.
“Em breve poderá existir um engenheiro de inteligência artificial e profissionais buscando formação nas tecnologias que acompanham o 5G”, diz Rafael Pistono, ex-vice-presidente da Comissão de Direito e Tecnologia da Informação e Inovação da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), especialista em direito digital e sócio do PDK Advogados.
Relatório do Fórum Econômico Mundial de 2020 sobre o impacto do 5G nas indústrias e na sociedade aponta que até 2035 a quinta geração de telefonia poderá gerar até 22,3 milhões de empregos.
Para Pistono, a tecnologia também exigirá capacitação dos trabalhadores, porque a tendência é que as funções mais mecânicas ou menos qualificadas sejam extintas.
Embora a novidade seja lembrada principalmente por sua velocidade –em média o 5G alcança 1Gbps (gigabyte por segundo), dez vezes mais do que o 4G– , ela também terá uma latência (tempo entre envio e o recebimento de dados) bem menor, o que torna a resposta do celular a um comando consideravelmente mais rápida.
Essas características serão importantes também para permitir que mais dispositivos consigam se conectar concomitantemente à rede numa mesma região, afirma Pistono.
Com isso, o 5G vai demandar especialmente profissionais de IoT (internet das coisas, na sigla em inglês), tecnologia responsável por possibilitar que diferentes objetos, como câmeras e sensores, “conversem”.
De acordo com Gustavo Torrente, professor de tecnologia da Fiap (Faculdade de Informática e Administração Paulista), especialistas em big data, responsáveis pela gestão e análise de grandes quantidades de dados, também fazem parte da lista.
“É quem vai pegar todos aqueles dados que os sensores estão captando graças à conectividade do 5G e transformar essa informação em conhecimento. O dado por si só não tem tanto valor, mas a informação que você consegue tirar deles, sim”, afirma.
E como nem todos todos os dispositivos em circulação hoje têm a tecnologia para utilizar a novidade, serão necessários profissionais como desenvolvedores de aplicativos e software para construir soluções e produtos, de acordo com o professor.
Segundo Priscila Machado, líder de recrutamento na consultoria Accenture Brasil, habilidades técnicas e experiências em temas relacionados à nova rede, como realidade aumentada, cloud computing (computação em nuvem) e edge computing (computação de borda) –tecnologias de armazenamento ou processamento de dados– serão exigidas dos trabalhadores que desejam atuar nessa área.
Há, ainda, carência de mão de obra na infraestrutura da área de telecomunicações, onde serão demandados trabalhadores que realizam a instalação de antenas e outros equipamentos da rede 5G.
Além disso, habilidades comportamentais como resiliência e flexibilidade para se adaptar às rápidas mudanças do setor também serão fundamentais.
Engenheiro de planejamento de redes móveis na operadora Algar Telecom, Daniel Cunha, 48, vê na prática como o setor é dinâmico.
Na companhia, ele participou diretamente do projeto de implementação da rede 5G. No leilão da Anatel, a empresa arrematou sete lotes de frequências, que cobrem 87 municípios dos estados de MG, SP, MS e GO.
Cunha diz ter buscado parte do conhecimento necessário sozinho, em artigos, eventos, workshops, e conversando com fornecedores e consultorias relacionadas. Depois, procurou formação complementar na academia.
“Senti que me faltava formação em tecnologia da informação. Busquei isso com mestrado e depois doutorado em computação”, diz.