A Guerra do Contestado ao ar livre

Resumo do que foi o conflito está em placas turísticas, no centro do Vale do Iguaçu, justamente em um dos limites de estados – alvo de toda a disputa

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Atualizado há 6 anos

Placas mostram os principais momentos do conflito (Foto: Mariana Honesko).
Placas mostram os principais momentos do conflito
(Foto: Mariana Honesko).

Considerado um dos maiores conflitos brasileiros, a Guerra do Contestado, que já completou mais de um século, continua sendo pensada, discutida, sendo tema de sala de aula. Mais recentemente, a guerra virou ponto turístico. É que a história dela foi resumida e adaptada para as novas placas de turismo, instaladas pela prefeitura de União da Vitória (veja mais no quadro).

As peças do Contestado estão entre as duas rodoviárias, de União e Porto União, fazendo um caminho, ao lado da linha férrea – um dos marcos de divisa de Estado, e motivo de toda a disputa. “A pessoa chega numa praça, num monumento, é uma questão até de empatia. Basta nos imaginar no lugar do turista, de quem está de passagem, e olha um busto, as placas. É saboroso fazer essa leitura, colocada ali de uma maneira sucinta. Penso que ganhamos. Valoriza muito a história da cidade e que reconhecemos o passado”, avalia o historiador, Aluízio Witiuk. “E uma aula a céu aberto”, completa.

E é assim mesmo. Quem percorre as placas, todas elas, entendem um pouco mais sobre a Guerra do Contestado e sua importância para o Vale do Iguaçu. O texto, assinado pelo jornalista, Dago Wohel, resume os principais momentos do conflito, sem deixar de mencionar nomes e datas importantes de toda a trama.

Para Witiuk, que na sua carreira lecionou sobre o tema, a Guerra do Contestado serve como ensinamento para o futuro. “Se os poderosos não pensassem tanto no poder, que transforma e que corrompe quando não se tem os valores, teria sido diferente”, avalia. “Sabemos que essa história de um povo que abitava a terra das fronteiras entre os estados, onde antes era tudo Paraná, nos reflete direto.

Hoje, um curso de Medicina não vem para a cidade porque é preciso cem mil habitantes. Temos, União junto com Porto União, mas não é o mesmo Estado”, avalia.

A Guerra

O conflito começou em 22 de outubro de 1912 e teve fim há cem anos, em agosto de 1916. O conflito foi uma disputa pela região conhecida como ‘Contestado’, localizada entre Paraná e Santa Catarina. A Guerra aconteceu entre os camponeses e o poder do Estado. A área era rica em madeira e erva-mate.

As principais características deste momento foram o messianismo, a concentração de terras e a exploração da região por empresas estrangeiras. Por isso, o movimento foi semelhante à Revolta de Canudos.

Os camponeses haviam sido contratados para a construção de uma Estrada de Ferro, mas, com o término da obra, foram demitidos e expulsos da região do Contestado. Uma empresa estrangeira construiu uma madeireira, e os camponeses perderam a exploração de madeira como fonte de renda. Eles seguiram o messias José Maria – um líder religioso da Revolta – à procura de salvação.

As placas

Em uma ação da prefeitura de União da Vitória, foram instaladas ao longo de 2018 na cidade e em alguns pontos das rodovias BR 153 e 476, nos pontos de turismo e de cultua, 60 placas. Padronizadas num layout vertical, elas ficam próximas de pontos de interesse público e trazem informações destes endereços. O investimento total do projeto, conforme o site da prefeitura, foi de R$ 445.294,49, frutos de um repasse federal de 2013 do Ministério do Turismo e que desde 2016 estava paralisado “devido à falta de anuência no Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit).

Cidades já foram uma só

Para entender como as cidades, União da Vitória e Porto União, foram separadas, é preciso lembrar que elas já foram unidas. Foi em um período bem perto da Guerra do Contestado quando o traçado geográfico mudou e cortou ao meio uma única cidade. Nasceu então, por vontade política e sem qualquer consulta pública, a cidade de Porto União. Até 1917, a cidade era uma só, chamava-se União da Vitória e pertencia ao Paraná. Na época, os limites de estados não estavam bem definidos.