*Por Odilon Muncinelli*
Vindo de Palmas (PR), o Coronel Amazonas de Araújo Marcondes, o “Mauá Paranaense”, chegou aqui na Beira do Iguaçu, então Freguesia de União da Vitória, no mês de junho de 1.880, onde fixou a sua residência, a sua moradia. E, segundo o historiador Cleto da Silva, – “Logo depois, tornava-se proprietário da Fazenda “Passo do Iguassú”, à margem direita do rio Iguassú. Esse imóvel, no momento presente (1.933), pertence, na sua maior porção, à Exma. Dona Júlia Amazonas, viúva daquele Coronel e a seus filhos. Uma grande área dessa Fazenda, foi, ainda em vida do Coronel Amazonas, dividida em lotes, e estes, vendidos à colonos de diversas nacionalidades”. (in “Apontamentos Históricos de União da Vitória 1.768 – 1.933”, 1.a edição, na página 38).
Todavia, a única moradia ou a única casa onde morou o Coronel Amazonas era tida e havida como um “palacete”, porquanto, o mesmo historiador Cleto da Silva, ao relacionar os moradores de Porto da União, entre os anos de 1.868 e 1876, informa que, – “Antônio de Moura tinha o seu rancho, onde foi construído o palacete do Coronel Amazonas Marcondes”. (in obra citada, na página 32). Por conseguinte, a sua única moradia ou a sua única casa, o dito palacete, estava localizada na parte mais alta da atual Rua Coronel Amazonas, na quadra entre o Clube Concórdia e a Ponte da Estrada de Ferro (a Ponte Machado da Costa), como se observa de uma fotografia estampada no livro “Claro Jansson – O Fotógrafo Viajante”, nas páginas 74-75, que, além do palacete, mostra o acampamento do Regimento de Segurança do Paraná, as chamadas “forças legalistas”, nas proximidades da margem do Rio Iguaçu, durante a Campanha do Contestado, conforme registro feito pela lente de Claro Gustavo Jansson, o fotógrafo do Contestado e dos Tropeiros. (Imagem 1) Outra fotografia, agora de um quadro, publicada na Coletânea do Cinquentenário de Porto União, na página 23, também mostra e retrata o palacete do Coronel Amazonas, tendo em frente um frondoso “sassafrás”, em cuja sombra o Coronel Amazonas teria tomado chimarrão com o Visconde de Taunay.
Outras referências fidedignas informam e comprovam suficientemente estas minhas afirmativas, a saber: 1. “A 11 de Abril de 1.885, o Coronel Amazonas de Araújo Marcondes, contraiu, em Curitiba, novas núpcias com a Exma. Sra. D. Julia Malheiros Amazonas, que ainda reside no mesmo palacete, construído pelo seu saudoso marido, em Porto União”. (in obra citada, na página 42). 2. No seu testamento, lavrado em Porto União, dois dias antes da sua morte (23-12-1924), o próprio Coronel Amazonas declarou expressamente: “… sou domiciliado na cidade de União da Vitória, Estado do Paraná; minha casa, no momento presente, está na cidade de Porto União, Estado de Santa Catarina, devido ao acordo de limites entre Paraná e esse Estado”. (Cleto da Silva, na obra citada, página 166). 3. “Ambos se hospedaram na residência, ou melhor, na mansão do Coronel Amazonas, …” (Noel Nascimento, em “Casa Verde”, com quatro edições – 1.963, 1.981, 1,985 e 2.001, capítulo V). 4. Por fim, uma última referência menciona o Coronel Amazonas, “Residindo às margens do Rio Iguaçu, numa colina próxima à atual ponte da estrada de ferro, …”. (..).
À sua vez, o professor Nivaldo Antônio Oliskovicz confirma as minhas afirmativas com muita propriedade: – “Esta é a única casa do Cel. Amazonas Marcondes, em Porto União, SC, que se tem comprovação histórica e localização exata. Ficava na parte mais alta da rua de cima, cerca de 30 metros acima do nível do rio Iguaçu, entre o edifício Solar do Porto e a ponte Machado da Costa, onde a Avenida Coronel Amazonas, em Porto União, SC, divide-se em duas ruas. Era de alvenaria. Foi construída antes de 1900, tendo servido como enfermaria do 5º Batalhão, em 1.948, conforme testemunha Cel. Pedro Bonn. Queimou em 1953, restando apenas o trinco da porta da frente e uma grade de ferro que estão guardados como relíquias históricas. (Foto de José Lona Cleto, 1.935 – (…).). Curiosidade: o Coronel Amazonas gostava de sentar-se à sombra do pé de Sassafrás, árvore frondosa em frente ao seu palacete”. (in Entrevistando a Arte, obra inédita). Anotação: Há ainda mais um quadro que retrata o palacete do Coronel Amazonas, quadro esse, que foi pintado pela artista Helga Beate Will Clementino da Silva.
Acrescente-se ainda que: – “Na sua casa de residência situada à rua de seu nome, hoje do lado sob jurisdição catarinense, mas construída em 1885, sob o domínio paranaense todo aquele território, casa que tem a forma de chalé, de alvenaria de tijolos, estes de sua olaria, com sacadinha de gradil de ferro, área acimentada e sob arcadas, com amplos jardins aos lados e quintal bem cuidado e plantado, ali, o Coronel Amazonas hospedara os Presidentes da Província Drs. Carlos de Carvalho e Visconde de Taunay, ao tempo de Império e, na República, o Bispo D. José de Camargo Barros e mais tarde o Presidente Dr. Carlos Cavalcanti. Outras personalidades de destaque: militares e políticos foram recepcionados nessa residência que ainda é a mesma até os nossos dias e cuja construção foi por ele mesmo, dirigida e planejada. Pode-se dizer que é um belo palacete de onde o Iguaçu é visto até a sua primeira volta. O panorama é magnífico, vendo-se ao fundo as montanhas azuladas que contornam a cidade de União da Vitória. / Sua Exma. Senhora Dona Júlia Amazonas, prendada dama patrícia, ao receber suas visitas, fazia-se ouvir ao piano”. (in Coronel Amazonas de Araújo Marcondes, Ligeiros traços feitos por Cleto da Silva, autor de “Apontamentos de União da Vitória”, em Agosto de 1.947, publicados no Jornal Caiçara, edição do dia 27 de março de 1.972).
Nestes mesmos “ligeiros traços”, o historiador Cleto da Silva informa no quinto parágrafo que o Coronel Amazonas – “Também remava admiravelmente. Quase diariamente, pela manhã, tomava de seu remo e saía de casa ao porto onde tinha a sua canoa predileta, de pequenas proporções e ei-lo, de pé, sozinho a remar para a margem direita onde estava sua Fazenda denominada “Passo do Iguassú”. E remava com muita naturalidade, parecendo não estar dependendo de nenhum esforço para tal. Assim cruzava o rio Iguaçu duas e mais vezes por dia. Do outro lado, apanhava o seu cavalo baio, de “cabos negros” e percorria a Fazenda”.
De outro lado, a conhecida casa de madeira, a dita casa azul, tida como “a casa onde morou o Coronel Amazonas”, localizada no Distrito de São Cristóvão, nunca foi a moradia ao Coronel Amazonas. Mesmo assim, muitos dizem ou escrevem e repetem com palavras e imagens que a conhecida “Vila Maria” é a casa onde morou o Coronel Amazonas. Ledo engano! Na verdade, a referida casa era de sua propriedade, utilizada como sede da sua Fazenda “Passo do Iguassú”. Aliás, segundo a informação oral, naquele local existiram duas casas. A primeira foi demolida (dizem que foi construída por volta de 1880) e a segunda (a atual) foi construída no ano de 1.946, como se observa da fotografia de Lulu Augusto, mas, o Coronel Amazonas nunca morou em nenhuma delas. (Imagem 2) Quem morou ali foi a família do seu filho, Amazonas Marcondes Filho, mais conhecido como “Amazoninhas” (ou como “Nenéco”), que era casado com dona Sarah Pimpão Marcondes. (Tanto que, no portal da casa, ainda existe – conforme registros fotográficos – uma pequena placa oval com as iniciais “AMF” que significam Amazonas Marcondes Filho). O casal tinha três filhas Maria Josefa (a Mimi), Maria Júlia e Maria da Conceição, as três Marias, daí a origem da denominação “Vila Maria”.
À sua vez, e mais uma vez, o professor Nivaldo Antônio Oliskovicz assevera que: – “… a casa dos Amazonas em São Cristóvão, onde o Cel. Amazonas nunca morou. Foi construída por Silvio Correia – genro do Coronel Amazonas – por volta de 1.920, obedecendo o traçado da estrada de ferro que foi estendida em 1.904. / A edificação dessa casa respeitou o terreno da rede e a rua que passa em frente, sendo locada legalmente, quando já havia um plano urbanístico no local. Caso contrário, se tivesse sido construída antes de 1904, estaria virada para o sol nascente ou para a cidade, e não para a rua como está. Também serviu de residência por breve período ao Dr. Penido Monteiro, por longo tempo pelo Amazoninha – filho do Coronel – e, por último, por Ilkes Correia. / Em torno dessa casa permeiam muitas lendas e fantasias, sem consistência histórica, inclusive sobre o profeta João Maria que esteve em União da Vitória, em 1.896, 20 anos antes de tal casa ser construída, fazendo profecia sobre ela, (…)”. (in Entrevistando a Arte, obra inédita).
Além disso, diante das minhas afirmativas e comentários na Coluna Milho no Monjolo, em várias edições do Jornal O Comércio, o jornalista e confrade Ivo Dolinski escreveu que: – “O primeiro prefeito de União da Vitória, coronel Amazonas Marcondes residia bem nas proximidades do Clube Concórdia, na rua que tem o seu nome”. (in Jornal A Cidade, edição n.o 701, do dia 10-08-2.012, página 5).
Ademais, “a Casa do Coronel Amazonas”, localizada no Distrito de São Cristóvão, está tombada ao “Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural do Município de União Vitória”, nos termos do Decreto n.o 90, de 27 de Agosto de 2.003, publicado na imprensa local e registrado no Livro Tombo do Município, com a finalidade de transformá-la em um centro de documentação, memória e pesquisas. Nota: Além de “a Casa do Coronel Amazonas”, a imprensa fala em “Casa da Família Amazonas”, “Casa Coronel Amazonas”, “Casa Amazonas”, “Casarão dos Amazonas”, “Casarão Amazonas” ou apenas “Casarão”. E a lenda fala em “a residência do Coronel Amazonas”, sem nenhum apoio histórico, como já foi dito anteriormente.
Posteriormente, no ano de 2.005, “a casa do Coronel Amazonas” foi cedida pelo Município de União da Vitória à FAFI de União da Vitória, a título de comodato, por 10 (dez) anos, a fim de transformá-la em um Arquivo Histórico. Todavia, no dia 08 de agosto de 2012, mediante ofício, aquela Instituição de Ensino Superior rescindiu a cessão em comodato e devolveu a mencionada casa, tida como “histórica”, em razão de que a sua restauração é praticamente inviável, financeira e tecnicamente. Anotação: Segundo a lei civil, o comodato é um contrato unilateral, gratuito, não solene, pode ser oral, mas a forma escrita é recomendável.
No ano passado (2.012), atendendo convite da professora e confreira Lili Matzenbacher, proferi uma palestra dirigida às senhoras da Associação da Faculdade da Terceira Idade (AFATI) sobre “História Local: A Moradia do Coronel Amazonas”, um assunto polêmico e do momento. Porquanto, a nossa História Local estava sendo mal contada, e assim repassada, num efeito dominó. Quer dizer, um comentarista começou errado e os outros continuaram errando.
Atualmente, fala-se que o Município de União da Vitória vai promover a restauração completa da “Casa do Coronel Amazonas”, a fim de transformá-la em um Arquivo Histórico, apesar da sua estrutura externa e interna se encontrar seriamente comprometida pela ação do tempo, quase que irrecuperável.
Beira do Iguaçu, 27 de Março de 2.013
(*) Advogado e Membro da Academia de Letras do Vale do Iguaçu