Por Mariana Honesko
Hoje o dia é dela. Porto União amanhece mais velha, mais madura, muito mais sólida. A cidade que chega aos 97 anos já pertenceu ao Paraná e no Estado, também fez a diferença no contexto social e econômico. Em Santa Catarina, oficialmente desde 1917, a cidade se integra ao Planalto Norte e mostra, pelo trabalho e produção, que é capaz de se agigantar diante de outros grandes pólos. Mais recentemente, a escolha dos empresários do grupo Havan pela cidade confirma o entusiasmo no cenário. O complexo é amplo, prevê a contratação de pelo menos 200 pessoas em um primeiro momento e é a aposta para o “estouro” da pacata terrinha, escolhida por quase 35 mil moradores.
Mas, muito antes da chegada da Havan e de complexos menores mas ainda importantes, Porto União provava por si só a competência de gestão. Recente levantamento mostra, por exemplo, que a cidade já conta com mais de 360 microempreendedores individuais. É fomento nas pequenas e grandes empresas.
Porto União segue como pólo madeireiro – com União da Vitória a representatividade é de 30% da produção nacional – mas diversifica sua economia. Atividades agrícolas, como a produção de leite, soja e milho, caminha de mãos dadas com opções de serviço, comércio e indústrias. A diversidade é fruto da vinda de pelo menos dez etnias distintas que, no início do século passado, encontram na geografia ora montanha ora plana, a oportunidade de ser feliz.
A felicidade mora aqui
Aos 80 anos, Hércia Sander quis ser feliz aqui
Ela é sinônimo de simpatia e simplicidade. Doce e cheia de alegria, dona Hércia Sandler é o retrato das avós das histórias infantis. Do alto de seus 80 anos, consegue enxergar o passado de uma vida difícil mas que sempre foi marcada pela esperança de dias melhores. Foi em Santa Cruz do Timbó, distrito de Porto União, que seus pais nasceram e foi lá também que ela aprendeu a fazer de “um limão, uma limonada.” “Sou viúva há 42 anos. Tenho três filhos. Criei eles sozinha, na lavoura”, conta. Hércia nunca mais se casou e do amor que alimentava pelo marido, sente orgulho. “O tempo passava e a gente se amava sempre mais”, sorri. A despedida foi trágica: o agricultor teria passado mal durante o trabalho no campo. De lá, saiu apenas morto. “O meu filho mais novo, na época, tinha um aninho só”, lembra.
O tempo passou e a vida ficou mais fácil. Há dois anos, Hércia teve que deixar a casinha na colônia – ela morava sozinha no campo – para ficar, de novo, mais perto de um dos filhos. “Ele pediu para ficar perto, pra eu sair de lá (colônia). E agora estou aqui”, sorri, mostrando o sobrando onde vive. A idosa, avó de oito netos e dois bisnetos, arrumou o primeiro piso do imóvel do seu jeito. Pela casa, as fotografias dos familiares decoram o ambiente. As flores também são evidentes. Os dias menos trabalhosos permitem alguns luxos. “Fazer bolo, bolacha, é comigo agora”, diz, elogiando a tecnologia fácil e acessível. “Hoje é riqueza. No meu tempo, era só chá do quintal”, brinca.
Ele não troca Porto União por nenhum outro lugar
Aos 29 anos, Everton Luiz Steniski, é determinado e parece saber exatamente o que quer. Natural de Porto União, Everton garante que a cidade é sua casa. “É onde me sinto bem. É uma cidade calma, tranquila, onde podemos sair sem toda preocupação que vemos nos grandes centros”, sorri. “Já conheci várias cidades mas não troco Porto União. A cidade não é perfeita, tem seus problemas, mas, qual cidade não tem?”, completa.
Ele compartilha do sentimento de dona Hércia, uma das moradoras mais antigas de Santa Cruz do Timbó. É em Porto União que pensa, faz planos e projeta o futuro. Muito mais que uma raiz ligada à descendência ucraniana e da exibição de um tom de pele marrom, fruto da mistura dos povos, Everton participa de perto das ações de desenvolvimento da cidade.
No Senac, instituto de capacitação profissional que também escolheu Porto União para se instalar recentemente, ele é professor de Informática. Durante o dia, atua como auxiliar administrativo em uma grande empresa especializada na produção de papel e madeira. O complexo fica na Área Industrial, outro pólo efervescente da economia local. “Trabalhar no Senac é a realização de um sonho. É muito gratificante você contribuir na formação de novos profissionais. Em compensação, na empresa, consigo trazer para sala de aula a realidade de uma empresa, fazer com os alunos tenham a visão de como resolver problemas, conflito e responsabilidades”, diz.
Everton é “filho” do Bairro São Pedro. “E dificilmente mudaria daqui. Tenho planos de construir minha casa e investir aqui, na minha carreira profissional”, diz.
Como será a comemoração
O aniversário de Porto União tem um roteiro extenso de comemoração. Ele começou no final de agosto e hoje, especialmente, tem o desfile cívico como seu auge. Ele começa logo mais, às 14 horas, na Rua Sete de Setembro, no centro. Amanhã, Santa Cruz do Timbó, que comemora 95 anos de fundação, recebe o Festival da Canção. O evento começa às 18 horas. No domingo, a secretaria da Cultura assina o Desfile Cívico de Independência. Ele começa às 9 horas, na Manoel Ribas, em União da Vitória. Também neste mesmo horário e dia, ocorrem o Desfile Festivo dos 95 anos de Santa Cruz e a Festa do Maratá, na comunidade que empresta o nome ao evento.