Você entende a letra do seu médico no receituário?

Segundo o Código de Ética Médica, é vedado ao médico receitar ou atestar de forma ilegível

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Atualizado há 12 anos

Você já teve dificuldade em entender a letra do seu médico nas receitas que ele prescreve? Se a sua resposta for sim, você não está sozinho. O problema é comum, e divide os profissionais.

Para a mãe de primeira viagem Ana, a dificuldade em entender o remédio prescrito foi divida com a farmacêutica. Que também encontrou barreiras para entender o verdadeiro nome do remédio, receitado para o filho de sete meses. Depois de um tempo, e de uma conversa com a mãe, o remédio entendido como Plojan era na verdade o Plogass. A mãe ressalta que além da letra ilegível outra fator que pode ter desencadeado a demora, foi o despreparo da profissional.

Código de Ética Médica
Para o presidente do Conselho Regional de Medicina do Paraná, (CRM-PR) Dr. Alexandre Gustavo Bley, o artigo 11º do Código de Ética Médica, deixa claro que é vedado ao médico receitar ou atestar de forma ilegível.
Pare ele, a questão da letra legível se tornou crônica, devido a importância e a gravidade da documentação médica. Afinal, ela serve de orientação ao paciente. E, se o paciente não entender a receita ele pode fazer o uso errado do medicamento.
No Paraná, problemas com receitas ilegíveis não são comuns. Outras denuncias chegam ao Conselho, e ao analisar o prontuário os problemas podem ter sido originários da difícil compreensão do que estava escrito.

Para Bley, a tendência é que os receituários passem a ser digitais. “Até mesmo pela sustentabilidade esse processo vai acontecer”. Outro ponto positivo para a era digital, é o espaço em arquivos.

O CRM-PR, já está iniciando o Prontuário eletrônico em algumas instituições. Mas a dificuldade é a falta de software que já estão certificados para utilização. Outro processo que também está em fase inicial, são as Carteiras de Médico com chip digital para fazer a certificação e validação as ações. E dentro desse prontuário, além do espaço para a evolução clínica do paciente, também tem espaço para a prescrição.  “Acredito que no futuro esta situação será sanada” comenta o Presidente do CRM-PR.

Dr. João Alberto Prust – apesar das tecnologias não abre mão da caneta (Foto: Jaqueline Castaldon)

O Prontuário
Vários profissionais ainda apresentam certa resistência em aderir a modernização.

Por acreditar que o contato com o paciente é maior quando a prescrição é feita manualmente ou, por não se adaptar a modernidade.

Para o Conselho, a escolha em optar ou não para a tecnologia depende de cada profissional. Mas a orientação, é explicar sobre o medicamento e ao fim, sempre perguntar se houve ou não o entendimento.

Dr. Oseimar Ribas – o bom e velho receituário (Foto: Jaqueline Castaldon)

A mão
Para o médico Ginecologista João Alberto Prust, o receituário feito a mão, traz mais comodidade e contato com o paciente. “Você consegue ter o contato olho a olho”, destaca Prust.

O médico, que afirma que possui uma letra legível,  já tem em seu consultório um software que auxilia no preenchimento do receituário, mas ele, ainda não conseguiu se adaptar ao programa.

O médico Pediatra Oseimar Ribas, tem a opinião parecida com a do Dr. João, ele acredita que com a receita escrita o contato entre médico e paciente é melhor. “Eu já escutei de vários pacientes, que foram consultar e o médico só ficou olhando para o computador, na minha opinião a relação entre o profissional e o paciente perde um pouco neste quesito”, comenta o Pediatra. Ele também destaca que sua letra é razoável, e sempre explica o nome do medicamento, a dosagem e o tempo de uso.

A boa e velha maquina de escrever
O também Pediatra Dr. Pliniu Jakimiu, utiliza há mais de 25 anos uma maquina de escrever para receitar os medicamentos. Para ele, a receita precisa ser legível para que não ocorra problemas, e o contato com o paciente é mais intenso quando não é informatizado.

Ele também, oferece uma certa resistência quando o assunto é computador.”O computador tem suas vantagens, mas corre-se o risco das travadinhas”, destaca. Outro ponto de defesa para a maquina de escrever é que as seus pacientes – as crianças, adoram brincar com maquina. “Enquanto eu converso com os pais, as crianças vem aqui e “brincam”.

Dr. Luiz Antonio Manfroni – adepto das tecnologias há mais de 30 anos. (Foto: Jaqueline Castaldon)

A tecnologia sempre nas mãos
Com 37 anos atuando como médico, o Dr. Luiz Antonio Manfroni, sempre teve como aliando a tecnologia. Os dedos do médico deslizam automático no teclado do computador. Isso ele credita aos bons tempos como datilógrafo.  No começo, a maquina de escrever, com o passar dos anos a maquina de escrever elétrica e agora o teclado do computador.

Para ele, o erro pode ser comum, afinal, hoje em dia, os medicamentos possuem nomes parecidos. “Eu até lembro de uma situação. Uma vez, eu receitei para uma gestante o remédio Dactil – um antiabortivo, mas na farmácia acabaram vendendo para ela o Dioctil – um laxante”, conta Manfroni.

Dr. Pliniu Jakimiu – utiliza há mais de 25 anos a maquina de escrever. (Foto: Jaqueline Castaldo

A interpretação na formação acadêmica
Segundo o professor Marcos Joaquim Vieira, coordenador do Curso de Farmácia da Unidade de Ensino Superior Vale do Iguaçu, (Uniguaçu), no 8º período, os futuros farmacêuticos tem aulas voltadas para o procedimento e interpretação dos receituários. A matéria tem o nome de Atenção Farmacêutica.